23.9.19

OUTONO


Chegou de mansinho. Era um gatinho
amarelo de veludo antigo, a cauda em esse
a roçar as ervas distraidamente. A janela
aberta disse-lhe bom-dia, estás de volta,
amigo. Ele respondeu com um sorriso
humano de mistério. Souberam as aves
que à palavra chegada haviam de partir
e desdobraram asas. As mulheres
de viagens, os homens de viagens, leram
novidade nos ares e persignaram-se.
Uma criança chorou com um pequenino
medo a atravessar as lágrimas. Um velho
arriscou, serás o último. O gatinho amarelo
mirou as folhas do plátano na beira
do caminho. Disse, o meu trabalho começou.
Alguém em voz macia pronunciou o seu nome
e o escreveu na areia húmida da praia.

Licínia Quitério

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