22.3.23

PÁSSAROS

 

Tens um pássaro moribundo aos pés

e não lhe tocas

Esperas que ele morra

para depois o ergueres

A tua mão não treme

Dizes: pobre ser indefeso

Os teus olhos estão secos

do pó do tempo que passou

O chão da guerra está juncado

de pássaros mortos

Dizes: pobres seres indefesos

Ficam aguados os teus olhos

com a lembrança dos rios que passaram

Os pássaros lá ficam

até serem cinza água

remorso de todos nós

pássaros indefesos


Licínia Quitério

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