23.2.24

POEMA

 Sim, percebi que queres nascer. Esses toques subtis na minha mansidão, essas palavras que ressaltam nos teclados ou nos ramos das árvores, essas contracções inesperadas no meu leito de pensar, esse desassossego no parapeito da tarde, tudo isso, eu sei, é o anúncio da tua urgência de chegar ao lugar de sempre, junto aos outros que acolhi e moldei e a quem agradeci com enlevo e cansaço antes de os nomear. Serás também poema e serás o tudo e o nada de quem lê, de quem ouve, de quem se não contenta com o limiar das coisas. Eu percebo a tua pressa, o teu medo de que um dia no mundo não haja lugar para poemas ou anjos. Por agora, não te posso dizer a cor do dia de te receber. Vais aguardar, no corredor da tua espera, da minha espera, que aquela borboleta bata asas e um pólen de prata  inunde o quarto do meu segredo, do teu segredo, poema.


Licínia Quitério

1 comentário:

Graça Pires disse...

Que gosto é ler-te, minha Amiga Licínia.
Desejo que estejas bem.
Uma boa semana.
Um beijo.

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