Dizia que havia de guardá-las num cofre inviolável. E acrescentava: ao abrigo das mansas insinuações dos deserdados e das curiosidades de escribas ocasionais. Conseguiu os seus intentos. Uma incrustação de madre-pérola na porta robusta anunciava -Jóias-. A chave trazia-a pendurada ao pescoço, balanceando nas malhas de um fio de prata. Quando a dona arrefeceu de viver, a chave deixou-se tocar e mostrou uma minúscula inscrição: Pega as pérolas. Bebe as lágrimas. Até hoje ninguém se atreveu a abrir o cofre.
Licínia Quitério
21 comentários:
belo texto.
Muito interessante...mesmo!
Gostei mesmo muito: é lindo.
Eduardo Aleixo
( À Beira de Água )
Pérolas, as lágrimas dos deuses. Colar de pérolas à tona da taça de champanhe...
"Quando a dona arrefeceu de viver," secaram-se-lhe as lágrimas e brotou um sorriso na comissura dos lábios.
Bj
não é preciso ver pra crer, já disseram.
percerber... a poesia, a dor...
uma beijoca fraterna
Ninguém quis beber as lágrimas...
Um texto excelente, como sempre Licínia. Beijos.
belíssimo texto!
Olá,
Tropecei no teu blog e adorei!
Herdei, da minha bisavó, uma caixa de jóias assim...de madeira trabalhada com uma incrustação de prata que diz "Jóias" Mas chave, nunca teve...e a jóias lá permanecem, poucas mas lindas e dela, não minhas eternamente.
Até breve.
;O)
Misterioso e belo texto, como convém quando se fala de pérolas e de lágrimas.
A foto, transgressora no grito das cores
... nem eu -que me julgo com a coragem?! necessária para abrir algo cujo conteúdo me possa trazer uma fatia de felicidade, me atreveria. Se a inscrição rezasse "Pega as pérolas e bebe um copo." tudo bem. Agora "as lágrimas"? salgadas como elas são? e a minha tensão? ahn?...
Uma pérola de texto.
beijinhos.
lágrimas que são joias. raras...
belo.
"Quando a dona arrefeceu de viver": belíssimo, Licínia. Como são delicadas as palavras que assim dizem de pérolas e lágrimas!
Esta convicto de que já tinha deixado aqui um agradecimento pela visita e comentário que fez. É a net no "seu normal" (ou eu...).
Sítio bonito, este. Irei voltando.
Abreijos
Sinceramente, acha que o meu blog é pimba?
Muitos cumprimentos.
pérolas ar água
arco de
olhos
navegar ~
Podia ser o início de um conto pleno de poesia e mistério... ou tão somente a constatação da dor de viver.
fechou o cofre vazio de sentimentos
descerrou o véu do esquecimento
pegou as lágrimas, bebeu as pérolas
... e dos seus olhos raios de prata
tocaram a lua nova
revelando um sorriso de criança
(porque toda leitura é oportunidade de ver diferente...)
um abraço fraterno, Amiga.
É bom vir de vez em quando ler de quem sabe do ofício... :)
beijo
Aguardo a continuação da história no sítio ali ao lado... Observação e ironia q.b. :-)
Uma joia. Este texto.
Obrigada por teres comunicado, pois encontrei um espaço de escrita sensível e muito bela.
Deixo o comentário aqui porque me tocou o que abordas.
Meu pai não gostava de pérolas, não gostava que minha mãe usasse as dela. «Pérolas são lágrimas», dizia.
Durante anos tive algum preconceito em relação a elas, mas a vida ensinou-me a ser mais prática: pérolas são lágrimas sim... de ostra!
Então uso agora sempre uma fiada linda que me ofereceu o meu Rapazito já homem, cinzentas como o meu cabelo, e ele fica tão feliz por isso!
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