Provavelmente foi o cansaço de certas vozes que me fez desviar para uma ruela batida pelo sol violento do meio do dia. Era a única porta da primeira casa ao alcance da minha mão esquerda. Já não bem uma porta, mas um objecto ali esquecido pelos muitos anos da gente que pela casa passou. Na porta, uma montra de vidro estilhaçado. Vendo melhor, um quadro, uma colagem de despojos de batalhas presas no ranger dos dentes. Decadências, pensei, enquanto guardava o quadro na galeria da minúscula máquina de apanhar memórias. Uma pontinha de remorso, como se tivesse tentado roubar a alma a alguém.
Licínia Quitério
17 comentários:
... uma porta e um postigo
sairam de moda substituem-se pelas aço, blindadas, para sossego dos moradores
tanta gente sem casa e tanto desleixo...
As pegadas do tempo, do seu paso...
Un beijo
:)
Estilhaços do que foi...
Abreijos
Licínia: são as nossas pegadas, os nossos despojos, as nossas relíquias, as nossas heranças, os nossos cheiros, os nossos tristes tesouros escondidos...As pedras falam, eu sei.
Eduardo Aleixo
Fabuloso! A profundidade do pensamento do teu olhar sobre esta porta. E particularmente arrepiante o silêncio daquele número de telefone riscado. A presença na ausência, ou a ausência na presença.
Os sonhos em estilhaços.Uma porta: um sinal de abrigo.
Um beijo Licínia.
Escreves muito bem.
Feliz feriado.
todas as portas têm memórias bem guardadas. roubar-lhes a alma é uma tentação.
um beijo.
Andei na passeata. Gostei.
Uma noite descansada.
Oi minha nova amiga Licínia Quitero.
Adorei seu blog. e voltarei mais vezes.
fique na paz Regina Coeli.
Te aguardo no cantinho da deusaodoya.
Felizmente a memória...um beijo.
Que engraçado! O mesmo se passa comigo. Encontros ao dobrar da esquina. Seja porta, janela, vaso pendurado, gaiola, o que for. E como deitar-lhe a mão e sacá-la furtivamente envolvido em sentimentos culposos. São os objectos a que chamo lugares comuns, que, de tão vistos, ninguém repara. A não ser almas sensíveis e fracas como as nossas
as nossas horas passadas...
a que soubeste estar atenta como artista que és.
Olhar especial o teu, de dentro, para aprisionar assim todas as vidas que passaram por essa porta.Sem remorsos, porque criaste beleza.
Por vezes as coisas velhas são mais edificantes... que as novas.
Cumprimentos
Nem sombras de pássaro
antes esquecimento
da vida.
Há gente que se esquece da vida.
Bj
Todas as portas são uma abertura para o Mundo. Mas, também escondem segredos, histórias e ilusões.
Gostei de visitar o seu espaço. Vou regressar...
Um abraço,
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