Na casa da avó havia um quintal. Nas casas dos ricos havia jardins. E havia roseiras e a avó chamava belas-portuguesas às rosas que elas davam. As couves galegas eram muito altas. Algumas mais altas que os netos mais altos. As folhas de baixo iam para os coelhos que tinham um olhar assustado. A pereira dava peras francesas que os bichos, antes dos netos mais velhos, atacavam sem dó nem piedade. No quintal da avó havia um alegrete. Nunca mais encontrei nenhum. Era uma tirinha comprida de terra e tinha à volta um murinho de cimento caiado de branco. Como um canteiro. Mas não era. Era um alegrete. Todo o ano tinha flores. As minhas preferidas eram os brincos-de-princesa. Dava um trabalhão catar as lagartas e matar os caracóis e as lesmas. A avó capava os craveiros e assim os cravos que resistiam à capadela eram enormes. Por esta altura do ano estavam quase a florir as alcoviteiras-da-primavera. A avó nunca soube que se chamavam frésias. Ao sair da porta da cozinha a avó tinha plantado uma roseira que tinha crescido muito e dava rosas-de-toucar. O quintal da avó era enorme. Tão grande que hoje fizeram nele uma salinha de um restaurante. O resto do restaurante é o resto da casa que foi da minha avó. Quando lá vou almoçar procuro ficar na mesa debaixo da pereira das peras francesas. Se levo amigos, digo sempre "Vamos ao Alegrete". Depois acham que eu estou a brincar porque o nome do restaurante não é esse. Porque é que havia de ser?
Nota: Este texto não tem nada a ver com O Sítio do Poema, dirão. Fantasias minhas, de fim de ano.
Até 2009. Por aqui voltaremos a encontrar-nos.
Licínia Quitério
21 comentários:
Bonita estória de afectos. Ao quintal e à casa.
Não é por acaso que procuras AQUELA mesa....
Bom 2009 para ti, Licínia.
Um abraço
Voltaremos a encontrar-nos nas memórias e nos sentires.
Olá
Porque será que todos os netos cujos avós tinham um quintal,se lembram do alegrete,das couves galegas,dos cravos "capados" e também dos cheiros que nas várias épocas do ano se faziam sentir.
Lembraste-me o alegrete e foi bom.
Noite Feliz
J.A.
Uma história cheia de ternura. Comovente. Cheia de recordações da infância. Um grande beijo e que o ano de 2009 seja para ti um ANO BOM.
Lembranças ternas de infância. Aquelas que nos amparam os dias. Um bom ano de 2009 para ti. Beijo
Que lindo ramo de afectos colheste no quintal da tua avó!
Espero também poder semear alguma magia nos corações dos meus netos!
É daqueles "bens" que nunca desvalorizam...
Tudo de bom para 2009, Licínia!
Um abraço amigo de Berlim
A magia dos jardins perdura, não tem fim. E ainda bem. Podemos lá voltar sempre que quisermos, mesmo que não haja um restaurante...
Belos textos aqui encontrei.
Abraço
Continua a ousar
mesmo no alegrete
contra todos os destinos
Bom ano
são belas de toucar as tuas rosas...
e os teus cravos (os que se safaram à castração, claro rss)
quero ir ao teu alegrete. posso?
beijo.
"A cada dia de nossa vida, aprendemos com nossos erros ou nossas vitórias, o importante é saber que todos os dias vivemos algo novo. Que o novo ano que se inicia, possamos viver intensamente cada momento com muita paz e esperança, pois a vida é uma dádiva e cada instante é uma bênção de Deus".
" UM FELIZ ANO DE 2009 "
Licínia,
que os quintais de brincos de princesa e de gatos pardos deitados ao sol, resistam -dentro de nós- â chuva da memória e à ferrugem do tempo...
Como rendas de bilros tecidas na saudade de uma infancia...
Abraço carinhoso e que o 2009 te seja um bom ano, amiga!
Os nomes das nossas avós que nos ficaram, têm tudo a ver com sítios de poema.
Um beijo Licínia, grande e alcoviteiro de primavera! (havemos de lá ir...)
Não tem nada a ver, mas é muito bonito.
Votos de um feliz 2009, Ano Internacional da Astronomia. Que os astros se conjuguem para lhe trazer tudo de bom.
Não se perca a felicidade,
Ou os anseios de amizade,
No Novo Ano ansiados,
Mas sempre retardados,
Pela guerra que se faz,
Sob este manto de estrelas,
Sem se perceber que há nelas,
Um desejo de cheiro a paz.
Félix Rodrigues
Um poema em prosa, que tem tudo a ver com o teu sítio.
Que 2009 te seja generoso em saúde, paz, luz, harmonia e afectos!
Beijinhos
e como podem ser poéticas as nossas fantasias...
um bom 2009 para si!
Que recordações deliciosas! E há séculos que não lia a palavra alegrete, que é tão cintilante!
Princípios de ano, tempo de recordar feliz...:))
BOM ANO, amiga!
Bom 2009
Continue a escrever!
Já cá estamos em 2009!
Cumprimentos.
Bom ano para si.
Uma ternura estes dois posts vegetais, Licínia, uma ternura.
Também eu tive disso na casa da Avó; alegretes, roas de toucar ou de Santa Teresinha, brincos de princesa e de raínha (que eram os maiores),é tantas, tantas outras flores (também de todo o ano) espalhadas pelo quintal (não jardim); na miha terra, jardim, tam´bem era para os ricos.
Obrigada Licína, pela visita e palavras e mais ainda por estas memórias.
Beijos e Bom Ano.
Maria Mamede
A beleza simples da memória e da ternura.
Obrigada pelas palavras bonitas que me deixaste. A Inês é uma força linda na escrita, eu escolhi aquele pedaço por falar da idiossincrasia dos portugueses, assim dita por um homem simples, «A Eternidade o Desejo» tem partes bem mais sedutoras.
Vim por aqui abaixo, palavras belas e sentidas, mas tocou-me o teu alegrete (mais do que as alcoviteiras-da-primavera, lindo). Nunca ouvi falar, será na Madeira? Há lá nome mais bonito para uma floreira?!!
Um abraço
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