20.10.09
DESCALÇA VOU
Descalça vou pelos trilhos do sempre.
Levo na boca a aspereza das amoras
que os melros rejeitaram.
O meu bordão é de oliveira
e não floriu ainda.
Um passo é só um passo e a rocha é quente.
Os latidos dos cães me dizem a distância
e eu vou, descalça e firme e sequiosa.
Os adivinhos me dirão
a lonjura da fonte e a cama do ocaso.
Se me perguntam quem me doou
este manto de espuma e a verdura do olhar,
respondo:
Quem me fadou assim, descalça,
a desvendar a estrada?
Licínia Quitério
partilhado por Licínia Quitério às 7:03:00 da tarde
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22 comentários:
Que poema lindo! Adorei! Muitos beijos.
Haverá sempre estrada nas tuas palavras.
Que bom vê-la assim
descalça
sempre a questionar
Difícil, a caminhada descalça, até ao ocaso do descanso...
Um beijo
L.B.
Caminhamos pelos trilhos que sabemos, sempre. Dos desconhecidos saberemos pela manhã, ainda que chuvosa, pela verdura dos teus olhos...
Um abraço
Eu bem digo que as pedras falam.
A nossa boca é em forma de coração, fadado no verde - talvez escuro - dos caminhos.
Bjinho
A estrada faz-se andando...!
Pés descalços deixam sentir toda a força da natureza que nos arrepia os sentidos...!
Andarei descalça consigo...se conseguir descobrir o trilho certo...!
1 Abr...aço
Descalça e firme e sequiosa
Vais deixado a marca dos teus pés nos corações por onde passas...
Beijinhos
Lindo poema, Li.
Um abraço
Nesta viagem bucólica mora o lirismo duma Leonor, talvez mais segura que a de Camões, sem cântaro mas com o apoio dum bordão e descalça,na busca da fonte do pensamento.
Descalça e nua, a tua poesia vai abrindo caminhos novos!
Beijo
Um caminho de silêncio onde os pés descalços procuram as palavras.
Muito belo o poema, Licínia.
Um beijo.
caminheira de ti própria. desbravando caminhos de encantamento. em palavras plenas...
belíssimo.
beijo
"... sabes que te leio com prazer. Os teus poemas são o sal que tempera os dias mais insípidos desta minha vida, onde as alegrias são tão raras, que se contam pelos dedos de uma mão.
Desculpa a ousadia, mas peço-te: não te descalces mais a desvendar as estradas deste país. A menos que acredites que o novo ministro das obras públicas vá atapetar o alcatrão das ruas com pétalas de flores e os passeios das mesmas com tapetes persas...
O teu fiel leitor,
Pê de Éfe."
Beijos e sorrisos.
a lonjura do sítio onde o poema se esconde...
o meu bordão é feito de sílabas
onde os pés se apoiam, para trilhar caminhos de sombras
_____
um beijo e bom domingo
Belíssimo poema, Licínia.
Em rigor, descalços somos mais nós.
Um beijo da Mel
gostei tanto, Licínia! a versejar o mote de Camões, com tanta criatividade, nas palavras e imagens tão delicadas e belas.
Reza-lhe a sina na linha traçada da palma do pé. Que nunca (nos) faltem estradas!
Gostei muito Licínia, um beijo.
Que mereces.
As palavras atropelam-se na boca com pressa de se dizerem, E saem ordeiras cadenciadas, sonoras, E as palavras arrastam sentimentos e ideias, E arrastam-nos para o dédalo dos sentimentos e ideias, E nós lá vamos a desvendar a estrada, os trilhos de sempre
Obrigado por te deixares ler, Licínia. Beijos de um prosaico admirador
PS (not PS): obrigado pela tua pronta linkagem ao meu FB.
Porquê que me lembrei das cantigas de amigo? Tão bonito! Como uma túnica de peregrino.
Lindo! Posso recitar este seu poema na próxima Segunda-Feira de Poesia do Pinguim Café?
E posso partilhá-lo no Facebook no meu grupo "Descalços no Porto"?
José luíz Ferreira, pode, claro. Os poemas são para voar.
Este faz parte do meu livro Poemas do Tempo Breve.
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