5.11.09
A ESCRITA DA CHUVA
A escrita da chuva é miúda, madrugadora, breve.
Escrita, apenas, livre da escravatura das palavras.
Quem sabe ler a sua transparência?
Quem lhe desvenda o verbo na liquida mudez?
Alguém falou do tempo efémero na cintura do dia,
de relâmpagos e árvores tombadas à entrada das cidades,
de cavalos fumegantes e do susto das donzelas na orla das planícies.
Nada a propósito da escrita da chuva no recorte do Outono.
Licínia Quitério
partilhado por Licínia Quitério às 9:19:00 da manhã
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18 comentários:
Sabemos da transparência da escrita por isso ela nos devora. Belíssimo!
Bom dia!!
Vim conhecer seu blog, e desejar bom fds
bjsss
aguardo sua visita :)
tudo a propósito porque tudo é possível na escrita, «na escrita da chuva», águas onde as palavras fluem em universos poéticos e gotas raras de beleza, como os teus poemas.
Ler a escrita da chuva nestas palavras transparentes foi um enorme prazer.
Obrigada!
Que chova
nas nossas línguas
As tuas palavras
liquidas simples e belas
em todas as estações
desbravam caminhos
acordam-nos
Bebo.
A escrita e a chuva miúda
pequenos os tragos
mansos os traços
verdes os laços.
Bjinhos Licínia
Leve, fresca e doce, a tua escrita em pingos de palavras belas.
Que bem escreveste, amiga!
Bonita esta escrita breve e líquida tão rapidamente absorvida pela terra mãe... que a devolve em flor.
Um beijo
Como gosto desta tua escrita de água molhada!
Bom fim de semana e um beijinho!
Escrita transparente. Palavras a lembrarem lágrimas...
Um beijo Licínia.
a palavra e o cunho orvalhado da mudez
translúcida
como a chuva
_____
um beijo
Não entendas que estou do contra, estou só um pouco rezingão: daí o comentário um pouco ao lado, parecendo quase que do mano Rodrigo.
Ora o meu ponto, que é certa e inconfundivelmente de exclamação, tem a ver com a estranheza e o pasmo de ver,ultimamente, as sovas que tem levado ... a palavra!
O Padre Carreira das Neves exorta o Saramago a não ver só o lado literal das coisas, a densidade material e real das palavras, e, indo para além, vendo-as à transparência, lobrigar o inebriável e inefável mundo das metafísicas. Outros andam para aí, também, metendo as palavras a ridículo, e escancarando-as de forma grotesca e atabalhoada. "Tu quoque", Licínia? com essa da "escravatura das palavras"? Com o apelo a lê-las à transparência como se de vitrais medievos se tratasse? À procura do "Logos" no santo graal? Vai-se a chuva e o que fica dessa escrita depois da passagem dos ventos do outono?
Desculpa o mau humor e procura desvendar-me o verbo na sólida tagarelice. Um beijo.
dolente a chuva. como notas de um cello solitário...
belo. o poema.
sempre.
beijo
A transparência e liquidez das tuas palavras.
Tudo a propósito da escrita da chuva no recorte do teu poema.
Um abraço, Licínia.
Boa semana.
Esquece-se a escrita
de tanta chuva correndo
no limbo.
Bjs
... desceu do cavalo fumegante e bateu à porta da cabana-com-telhado-de-colmo (por sinal, a única naquela floresta de palavras orvalhadas).
- Entre donzela, que está um autêntico pingo! Sim, sou o guardião da escrita transparente e parece que adivinhei que hoje iria ter visitas. Já lhe preparei um banho retemperador e se assim o desejar, peça-me que lhe irei lavar as costas...
- Calma homem! Eu apenas vim deixar um comentário no Sítio do Poema e não procurar uma aventura. Ou pensa que não sei ler à sua transparência?
A donzela deixou o comentário - com letras escorrendo chuva - e foi à sua vida. O recorte do Outono, era agora um ponto no horizonte da escrita.
Sorrisos.
Porque há escritas que não precisam de palavras escrevendo-se a si mesmas?
Gostei muito! E a fotografia é lindíssima!
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