1.10.12

DEIXA-TE FICAR

Deixa-te ficar. Encosta o cansaço
ao vermelho da rosa 
esquecida ela também de ser botão. 
Pensa na história mil vezes contada 
e acrescentada e sempre a mesma 
e já outra, a história.
Podes até não falar. 
Passeia os olhos nas capas dos livros, 
para cá, para lá, numa procura 
sem tempo de achamento. 
Os relógios não dizem tic-tac, 
mas tu vais ouvi-lo e leve, muito leve, 
a tua mão na mesa num batuque do longe, 
das  terras quentes que te não viveram. 
Fica mais um pouco. 
No vermelho da rosa aflora o negro. 
No teu rosto um sorriso de lua, 
a memória da prata.
Espera o piar dos mochos,
o coaxar das rãs, o cio triunfal
da vida sobre a morte.
Agora vai. A história espera
que a inventes, a contes, a acrescentes.
Que nunca o dia chegue de a saberes.


Licínia Quitério 

6 comentários:

Justine disse...

Fiquei - e gostei muito. E nunca saberei a história...

Eduardo Baptista disse...

Licínia
Sempre inspirada. Bom recomeço, mesmo recomeçando todos os dias. É assim a juventude sem idade.

Anónimo disse...

Que bom,que é ler-te, Amiga
Filipa

Benó disse...

Deixo-me ficar Rosa perdendo as folhas do cansaço do tempo.

maria joão moreira disse...

Eu não quero saber a história... é isso mesmo! quero sonhá-la, inventá-la todos os dias! um belo poema!

M. disse...

Uma beleza bíblica. Aqui de novo.

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