20.4.14

É PRECISO QUE CAIA


É preciso que caia a grande pedra, nossa cela e abrigo.
Que caia e se desfaça e dela fique uma lembrança
do que foram os dias imensos e os dias breves
em que fomos réptil que se apaga e águia que flameja.
Quando cair, do pó que acontecer há-de ficar um grão
a ser o coração duma semente. Vestidos de nudez,
caminharemos, inocentes, inermes, guiados pela claridade
das nascentes. Simples, iguais por fim aos sábios
e aos dementes, aos reis com trono e aos degredados.
Toda a hora será de nascimento e morte, indolor, indiferente,
de mágoas não sabidas, que um corpo assim, desfeita a pedra,
igual à luz e à treva, não cai, não se alimenta, não se esvai.
Vagueia eternamente e será mãe ou filho ou liberdade.

Licínia Quitério

3 comentários:

Graça Pires disse...

"Vestidos de nudez,
caminharemos, inocentes, inermes, guiados pela claridade
das nascentes." Tão belo!
Um beijo.

bettips disse...

De Esperança nos fizemos e somos!
Bjinho boas viagens...

Manuel Veiga disse...

que a claridade das nascentes sejam destino - assim libertos!

belíssimo.

beijo

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