Passam pontes e pontes,
sobre pálidas águas, terras ásperas.
Imóveis quase sempre as pedras.
Frágeis pontes do princípio dos dias.
Atravessam os anos e escurecem
as pontes do ocaso, trémulas.
Carregam as pontes, abatem os arcos,
passam a dizê-las imprestáveis.
Uma margem, outra margem e eles
indecisos, entre a fome e a fome.
Há quem se atreva à travessia
em busca de razão e nem a ilusão vá encontrar.
Ficar pode ser um destino, partir é fugir dele.
Se ponte não houver, a nado vão ou morrem.
É isto o que sabemos dos escravos
de novo em movimento, torpedeando
os pontos cardeais, chamando norte
ao que o norte perdeu, negando o sul
que depois de os parir os abusou.
Licínia Quitério
3 comentários:
Pontes entra a fome e a fome... Um poema que me tocou bastante, minha amiga.
Um beijo e um ano bom.
um poema tocante. e marcante...
beijo
Um voto para que levemos até ao próximo fim de ano a nossa condição de migrantes sem eira nem beira. Cá nesta terra, porque se há outras, o que ignoro, estão sobrelotadas e não nos receberão.
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