10.6.16

OS HOMENS TRISTES


Há homens que atravessam a rua

sem olhar
Levam nos ombros pedaços da noite
e não há cor que os vista
São homens cinzentos 
indiferentes ao sol ou à borrasca
Quem os vê diz 
ali vão os homens tristes
mas nem eles sabem o tamanho
da tristeza ou da improvável alegria
O chão da rua conhece 
a cadência incerta
a leveza ausente
dos passos destes homens
Há quem lhes chame homens de bruma
porque vagos são
os seus contornos
Virá uma manhã sem homens tristes
Ninguém perguntará
para onde foram
Alguém escreverá a sua história
no livro branco 
do esquecimento
A rua permanece

Licínia Quitério



2 comentários:

Graça Pires disse...

São homens, como diria o poeta Daniel Faria, que são como "lugares mal situados"...
O teu poema tão belo como sempre.
Beijos

Licínia Quitério disse...

Foi exactamente do que me lembrei, Graça. Obrigada pela tua presença sempre. Beijinho.

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