A harpa de
folhas ensaia a música do Outono.
Vou à janela
como se alguém estivesse para chegar.
Componho o
cabelo, aconchego a gola do vestido.
Defendo-me
do vento leve e da frescura do calendário.
Enrosco-me em
lembranças cor de feno com a quentura do sol
e dos corpos
extenuados dos homens.
Demoro-me no
deslizar vegetal, encosto-me à velha ternura
dos degraus
da escada, aos bordados de cal nos muros
sobrantes do Inverno.
Aqui
permaneço, melancólica, na esteira do meu país,
nos seus
estranhos dias em que o vinho não morre nem fermenta.
Licínia Quitério
6 comentários:
Caramba, como o senti!
Obrigada, David. Sentir é outra forma de o escrever.
"A harpa de folhas ensaia a música do Outono". Que belo começo de um poema tão próprio de uma grande poeta...
Uma boa semana, Licínia.
Beijos.
Gosto que tenhas gostado, querida Poeta. Beijinho, Graça.
Hoje passo por aqui em sentido inverso da viagem habitual. Fui primeiro à sua outra casa. Em cada uma dela, perfumes e cores de outono. Diferentes e, contudo, os mesmos. Melancólicos e muito belos.
Sempre belo o teu canto de pássaro
Bj
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