1.10.16

A HARPA



A harpa de folhas ensaia a música do Outono.
Vou à janela como se alguém estivesse para chegar.
Componho o cabelo, aconchego a gola do vestido.
Defendo-me do vento leve e da frescura do calendário.
Enrosco-me em lembranças cor de feno com a quentura do sol
e dos corpos extenuados dos homens.
Demoro-me no deslizar vegetal, encosto-me à velha ternura
dos degraus da escada, aos bordados de cal nos muros
sobrantes do Inverno.
Aqui permaneço, melancólica, na esteira do meu país,
nos seus estranhos dias em que o vinho não morre nem fermenta.

Licínia Quitério

6 comentários:

David Luna de Carvalho disse...

Caramba, como o senti!

Licínia Quitério disse...

Obrigada, David. Sentir é outra forma de o escrever.

Graça Pires disse...

"A harpa de folhas ensaia a música do Outono". Que belo começo de um poema tão próprio de uma grande poeta...
Uma boa semana, Licínia.
Beijos.

Licínia Quitério disse...

Gosto que tenhas gostado, querida Poeta. Beijinho, Graça.

Clara disse...

Hoje passo por aqui em sentido inverso da viagem habitual. Fui primeiro à sua outra casa. Em cada uma dela, perfumes e cores de outono. Diferentes e, contudo, os mesmos. Melancólicos e muito belos.

Mar Arável disse...

Sempre belo o teu canto de pássaro

Bj

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