20.9.21

MUTANTE

 Perdemos o antigo saber da mão na mão,

os dedos enlaçados, o aperto leve,

nascente o suor maninho.

Da boca a boca, já pouco sabemos,

 a lembrança  de uma certa fala

nascida talvez no coração.

Do abraço, tão perto o braço,

esquecemos o formato. 

Passámos a dizer infindo laço que tivemos.

A pouco e pouco o corpo vai morrendo.

Ai de quem se atreveu a dizer

eu  sou, eu estou, eu ficarei.

Havia de vir um ladrão maior que os outros,

embora o mais pequeno, o mais mutante.

Aí o temos, enquanto formos o que somos.


Licínia Quitério


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