Há lá maior intimidade do que esta
a que o corpo nos liga todo o tempo
sem pedir licença, sem fingir.
É a total pertença, nós com o nosso corpo
de que nada sabemos a não ser
que um dia ali não estará.
Dois pés são instrumentos para nos ensinarem
os metros do corredor e depois a largura da rua
e, se houver para tal força e vontade,
a contar os degraus da escada,
avançar um pouco mais e abarcar o labirinto.
Só não saberemos onde começaram
e irão acabar os nossos pés,
se é que alguma vez foram os nossos.
Falam dela como se de pano ou vela
ou parte inteira se tratasse
e nunca véu ou escama ou marca de água.
Pele devem dizer, como nascimento,
ou crescimento ou acrescento ou, em tempo seco,
outra estação que chega e só ela saberá
que seda, que beijo, que mortalha.
O corpo constrói-se. Reconstrói-se.
Nas fundações da construção
multiplicam-se os braços da ruína.
Licínia Quitério
1 comentário:
E como gostei destas variações sobre o corpo...
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.
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