24.9.25

VÍCIO

 Tenho o vício dos teus olhos

das tuas mãos em tremura

da tua boca de seda

escaldante como o carvão

na minha lareira acesa.

Da tua voz registada

no meu ouvido profundo.

Tenho o vício de te ver

em memórias de veludo

nas sementes espalhadas

pelas flores que não cuidei.

Tenho o vício de sentir

as dores que não rejeitei.

Tenho o vício de cheirar

campos  que não cultivei.

Tenho o vício de voltar

a caminhos que não pisei.

Tenho o vício de me rir

do choro que já chorei

e o vício da solidão

que me envolva de lembranças

das andanças que vivi.

Tenho o vício de escutar

segredos que me contaram

e aqueles que não contei.

Mais do que toda a virtude

é água pura a correr

o vício de te querer

sabendo que te não quero.


Licínia Quitério, 2006

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