10.5.08

NOTICIÁRIO



Notícias da Resistência:

As chuvas persistem em inundar a planície.
Quando as águas se retiram e descem aos vales sombrios, ficam estranhos desenhos de dores entrecruzadas.
Os aprendizes de adivinhos escrevem o passado nos jornais que ninguém lê.
Na casa, os móveis continuam a estratégia do pó para iludirem os antigos olhares.
Em quartos alugados, dizem-se palavras clandestinas e muitas mulheres as recebem nos colos remoçados.
Os poderosos insistem em abrir estradas de breu onde as formigas exaustas se suicidam.

Última hora:

Uma jovem planta de acanto, prestes a dar à luz, pediu asilo a uma mata de castanheiros. Deles, o mais velho e mais sábio ordenou que lhe dessem uma beberagem verde.


Nota de rodapé:

Aqui na Resistência chamamos-lhe Xarope de Utopia. Usamos e abusamos.

Licínia Quitério

16 comentários:

Anónimo disse...

é nesse uso e abuso que exercitamos a magia perfeita da infância.

abraço

Graça Pires disse...

Palavras clandestinas. Palavras com o cheiro interdito da mutações. Palavras com sinais de fuga... Um belo texto Licínia. Um beijo.

Justine disse...

Não há onde ir buscar, o xarope da Utopia, a não ser dentro de nós, não é?

(O teu texto trouxe-me à memória "A invenção do amor", do Daniel Filipe)

dona tela disse...

Tenho uma surpresa lá no meu blog. Espero que goste.

Áté amanhã se Deus quiser.

Manuel Veiga disse...

"Os poderosos insistem em abrir estradas de breu onde as formigas exaustas se suicidam"...

... até as formigas sentirem os efeitos do Xarope da Utopia!

boas notícias as tuas.
sempre!

beijos

JOSÉ FANHA disse...

Querida Licínia,

As tuas palavras doces são cada vez mais enleantes e surpreendentes. Que bela essa aventura.

Aproveito também para agradecer as tuas visitas.


Tenho sadades.

Um beijo,

José Fanha

PS. Que é feito do Vasco Pontes que está calado há uns tempos?

Fátima Santos disse...

e como é preciso resistir...

Joana Roque Lino disse...

a imaginação no seu auge. um beijinho

vieira calado disse...

Interessante, esta postagem.
Gostei.
Um abraço.

São disse...

O texto agradou-me deveras!!
Um abraço.

Ad astra disse...

e de repente transporto-me, nas tuas palavras mágicas

Mar Arável disse...

Pelo sonho é que vamos

hfm disse...

Abusemos.

Maria Laura disse...

O teu noticiário traz a esperança em forma de xarope verde. Bebamos.

bettips disse...

Réstea de verde utópico, tomar em doses exageradas.
E as papoilas resistentes nas bermas e separadores das autoestradas? Por Santarém adiante, vermelho espantado e alegre.
Tomar sempre, com amigos perto, se possível.
Bjinho

Maria Clara Pimentel disse...

Precisamos urgentemente de também nós pedir asilo a uma mata de castanheiros e beber um pouco de xarope de utop+ia.
Um poema de encantar e de cantar a necessidade de sonho e liberdade.

Maria Clara Pimentel

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