24.5.12

O HÍFEN


Sentada no degrau. O abuso do sangue nos quartos interiores. O potro sem deus nem dono, a compasso, sem compasso. Intenso e doce. Assim ela. Sumo de amoras bravas, trovoada de maio, lago de rosas, rocha mãe de areias. Desobediência, desmedida, desnorte. Arma, alvo e seta. Substantivo incomum, verbo em trânsito, conjunção inconsequente. O degrau e as mãos sobre a mesa. Cravos, café, vinho, vício, tudo. O potro verde sobre as águas, o relâmpago no copo, as mãos. O turbilhão, o balão da aurora, os minutos da febre, a pele do sofá, no sofá. O vidro, o verde, o verde. O véu da tarde, o silêncio e a pedra. O degrau, o potro, a vertigem. O hífen. A ausência do hífen -.


Licínia Quitério   

2 comentários:

Mar Arável disse...

Nos minutos da febre

há dias assim
com palavras lisas

Manuel Veiga disse...

na rebentação do silêncio. e da pedra - a rasgar véus!

... sem hifen!

beijo

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