para lembrar os dinossauros
entretanto construímos novos trilhos
a afirmar nossas pegadas
poucos anos durará
a flor que somos
Talvez esse Poema que todos procuramos um dia assome a esta janela
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Há lá maior intimidade do que esta
a que o corpo nos liga todo o tempo
sem pedir licença, sem fingir.
É a total pertença, nós com o nosso corpo
de que nada sabemos a não ser
que um dia ali não estará.
Dois pés são instrumentos para nos ensinarem
os metros do corredor e depois a largura da rua
e, se houver para tal força e vontade,
a contar os degraus da escada,
avançar um pouco mais e abarcar o labirinto.
Só não saberemos onde começaram
e irão acabar os nossos pés,
se é que alguma vez foram os nossos.
Falam dela como se de pano ou vela
ou parte inteira se tratasse
e nunca véu ou escama ou marca de água.
Pele devem dizer, como nascimento,
ou crescimento ou acrescento ou, em tempo seco,
outra estação que chega e só ela saberá
que seda, que beijo, que mortalha.
O corpo constrói-se. Reconstrói-se.
Nas fundações da construção
multiplicam-se os braços da ruína.
Licínia Quitério
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O rosto. A gente sabe lá o que é o rosto, o nosso rosto.
Quem o viu chegar e à luz o percebeu
não saberá quem é, quem será, por quanto tempo.
Pode até acontecer que se esqueça de si,
do tal rosto que os outros olham
e que ele de verdade nunca viu.
Um dia mostram-lhe um espelho,
põem-no ali mesmo de fronte.
A mão do rosto aflora a superfície fria e pergunta
quem é que tem um rosto assim, quadriculado,
parece que vai desmoronar.
Ficam a olhar-se, como se fossem dois e perguntassem
Quem é esta figura tão igual, tão desigual.
Sabem-no ambos, mas guardarão segredo.
Licínia Quitério
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Em jogos de luz e sombra, inquietos,
partilhado por Licínia Quitério às 10:03:00 da manhã 0 comentários
Perdemos o antigo saber da mão na mão,
os dedos enlaçados, o aperto leve,
nascente o suor maninho.
Da boca a boca, já pouco sabemos,
só a lembrança de uma certa fala
nascida talvez no coração.
Do abraço, tão perto o braço,
esquecemos o formato.
Passámos a dizer infindo laço que tivemos.
A pouco e pouco o corpo vai morrendo.
Ai de quem se atreveu a dizer
eu sou, eu estou, eu ficarei.
Havia de vir um ladrão maior que os outros,
embora o mais pequeno, o mais mutante.
Aí o temos, enquanto formos o que somos.
Licínia Quitério
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Não há regresso.
Escusas de dizer eu já fui assim e assim hei-de regressar.
Confortas-te a pensar no sorriso que foste,
no olhar sempre aberto,
pricipalmente nas mãos de luar.
Dizes, tudo volta a ser o que já foi.
É só esperar o vento suão.
Não te iludas, eu aprendi há pouco,
disse-te, não há regresso.
Quando tudo parece caminhar em frente
até fechar o círculo,
eis a rocha que estala,
o sopro que arremessa
e tudo fica igual a nada
apenas porque o tudo e o nada se contêm.
Só há regressos simulados.
Aprendi há pouco, eu avisei-te.
Licínia Quitério
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A mornidão dos dias que nos cabem
nos anúncios de outono
partilhado por Licínia Quitério às 12:52:00 da tarde 2 comentários