Uma cor vibrante, uma cor galante, uma cor estridente, uma cor diferente,
uma cor suave.
Grave é não ter cor ou supor
que se mente quando se diz:
a cor do amor é a cor do mar.
Do mar de amar,
do mal de amar, da dor
de não saber
o sabor de ter
um castelo de cor
ali ao pé, ali ao peito,
no jeito transparente
de cada amanhecer.
O meu amigo tem olhos da cor do fim de tarde, envolta em cheiro de rosmaninho e em doçura de velos de cordeiros.
A voz do meu amigo é da cor do canto dos riachos de margens muito antigas, polvilhadas de amoras e silêncios.
A pele do meu amigo é da cor da ardência do deserto e do arrepio da tundra.
O sangue do meu amigo tem a cor dos sonhos dos homens, das estrelas moventes, não cadentes, da respiração dos escravos, ao longe.
Uma cor, duas cores, sete cores, até ao pote de ouro, ao coração da terra, ao bicho cego, ao prenúncio do verde.
Uma cor, uma só cor, a maior, a mais serena de todas as cores, aqui à mão, aqui ao peito.
Uma bandeira contra o negro.
Pobre de quem não sabe
a cor do amor,
igual ao mar
de amar.
Licínia Quitério