dos becos nas cidades
cansadas de bandidos
Era quando se dizia bidon-ville
ou nova-iorque ou liberdade
com os dentes cerrados
com as portas cerradas
Era um tempo de carroças
de ciganos atulhadas
de cantares e imprecações
Foi um tempo de amarrar viagens
nas varandas altas
dos aeroportos
nos cais imensos
dos comboios imensos
de mais partidas que chegadas
Sou também do tempo
do incêndio das papoilas
do fundo respirar dos becos
da alegria dos escravos
e do susto dos faraós
Nesse tempo soubemos abraçar
com igual ternura
a ferrugem dos cascos dos navios
e a velha prostituta de amesterdão
Sou ainda deste tempo em que me sento
na cadeira-baloiço de um cow-boy
e espero novas de darfur ou bombaim
Vou ficar neste tempo de remorso
e de preguiça como um deus a descansar
Licínia Quitério