22.11.21

A CONSTRUÇÃO

A gente constrói.

A gente constrói-se.

A gente reconstrói.

A gente reconstrói-se.

Nas fundações da construção, os braços da ruína.

A gente teima.

A gente diz que este não é o tempo da ruína.

Constrói, reconstrói.

A gente ilude o tamanho do tempo.

Constrói, reconstrói.

Constrói, reconstrói.


Licínia Quitério

11.11.21

OS MALDITOS

 Caminham sempre até os pés se gastarem, até se perderem dos filhos, das mães.

Já esqueceram palavras que digam casa, água, riso.
Aprenderam fome, tortura, ódio que foi tudo o que lhes deram para a viagem.
Caminham sempre, sobre o gelo, sobre a areia, sobre o fogo, até os pés se gastarem.
Vão em direcção à terra prometida pelos deuses que lhes disseram do leite e do mel.
Sacrificaram os animais, as mulheres, as crianças, para aplacarem a ira dos cobradores de impostos.
Se for preciso atravessam os rios ou adormecem na correnteza e por lá ficam iguais aos peixes seus irmãos.
Caminham até ao mar azul que não se abre para os deixar passar.
Confiam nos barqueiros, dão a moeda, a última, o salvo-conduto para a terra do esquecimento.
Os que não pagaram continuarão a caminhar até avistarem o império e os seus muros.
São da Terra dos deuses que não pagam promessas.
Dali não passarão, os malditos.

Licínia Quitério
Foto da net

arquivo

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