20.6.17

A QUEIMA


As palavras também ardem.
Há palavras queimadas dentro de nós.
Ressuscitarão com as primeiras chuvas.
Assim saibamos o que fazer com elas.

Licínia Quitério

19.6.17

O ESPANTO



Todos sabíamos
Havia de vir o fogo
Com o poder de queimar
De matar
Todos sabíamos
Da avidez do fogo
Pela terra e seus pertences
Do seu desprezo pela água
Da sua força para enganar os ventos
E com eles bailar e subir
Da sua cupidez pelos corpos
Pelo sangue dos corpos
Do seu prazer da devora
Até ao osso até ao pó
Sabíamos e esperámos
Talvez o anjo nos salvasse
O anjo veio
E a sua espada era de fogo

E o nosso espanto é a cor da cinza

Licínia Quitério

10.6.17

ESCRITAS


Caligrafias,  de Ariana Andrade


no tempo do gelo ardente
na noite de fogo e lobo
depois de ter abatido
a corça mais inocente
com setas feitas de pedra
com arcos feitos de pau
com força feita de fome
 o homem se levantou
da esteira da solidão
e às paredes da gruta
 traços e voltas lançou
e com eles se encantou
e os traços multiplicou
e os traços deram as vozes
e as voltas deram as danças
e as danças eram de gente
e a gente era igual ao homem
que outro homem descobriu
nas pedras onde dançavam
as voltas que ali traçou
e com elas se amigou
 e ao outro dia chegou
uma mulher que passou
a mão nos traços e voltas 
e se aconchegou na esteira 
com o homem que inventou
do amor a carta primeira

Licínia Quitério

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