foto gentilmente cedida por uma Amiga
Vem, sem avisares,
dizer-me que provaste
a água fria das nascentes
e gostaste
e eu vou gostar de lhe tomar
o gosto em tua boca.
Dirás da força dessa água
na fonte inicial que procuraste.
Eu vou senti-la
em contenção na dobra do teu braço.
dizer-me que provaste
a água fria das nascentes
e gostaste
e eu vou gostar de lhe tomar
o gosto em tua boca.
Dirás da força dessa água
na fonte inicial que procuraste.
Eu vou senti-la
em contenção na dobra do teu braço.
Vem dizer-me
o som fantástico da gruta
por onde a água escorre
e às vezes se detem
adiando a viagem.
Eu vou escutá-lo em tua voz
e não sentirei medo
que tudo o que me trazes
vem do sítio exacto
onde as flores aguardam
as águas do meu peito.
Chamavam-lhe Zé da Fonte. Todos os dias, mal o sol acordava, caminhava até à nascente modesta, escondida por entre pedras gastas e ramadas pendentes. Ajoelhava-se e lavava os olhos, longamente, com as mãos inundadas de água fria. Depois tirava do bolso um naco de pão que mastigava devagar, muito devagar. Já de pé, dizia baixinho: Até amanhã, Mãe.
Ninguém lhe conhecia família. Não se poderia dizer que idade tinha. Caminhava aos saltinhos como um rio sobre leito pedregoso. Havia quem o temesse. Havia quem o adorasse. Por uns dias ninguém o viu. Procuraram em redor da fonte. Nem rasto.
Um corpo apareceu a boiar no ponto em que o ribeiro que nascia da fonte se encontrava com outro ribeiro nascido de outra fonte. As pessoas ficaram pesarosas. Coitado do pobre Zé da Fonte. Como foi que isto sucedeu? Só a Rosa Maria, que também caminhava aos saltinhos e tinha olhos cor de musgo, soube explicar, na sua voz murmurante: Voltou a ser água. Um homem tem de cumprir o seu destino.
Licínia Quitério
Licínia Quitério
17 comentários:
Vim beber da tua água. Um pouco de lavar mágoa. Como sempre, prosa em poema e uma nascente pura. Bjinho
Olá
Como sempre a limpidez do teu "ribeiro" de palavras (que bebo).
Obrigado
João A.
São sempre frescas as palavras que correm das tuas nascentes.
Beijinho*
Indescritível de bonito e de bem escrito. Senti a sua falta durante os dias em que não escreveu, embora julgue adivinhar as razões e as respeite.
Um beijinho.
há fontes assim: de água de milagres. que curam. e por vezes endoidam quem se atreve.
o Zé da Fonte que o diga...
é bom beber a água pura de teus versos.
As tuas palavras fluem como essa água. Ler-te lava a alma.
Beijos
Água mãe, princípio e fim. Uma total limpidez nas palavras. Para que a alma saia daqui lavada. **
Parece, dizem, que há quem tenha o destino de ser outro destino de Deus. Talvez tenha sido esse o seu destino...
Abraços!
voltou à mãe d´água.
apenas...
beijO
Ägua, homem, vida , morte.
Prefiro dizer passagem, acredito mesmo!
Uma beleza, as palavras, quer em poema ou prosa.
Licínia, não faltes à minha festa...Não estranhes a toada, sei qie é forte,mas faz bem!
Beijinhos
gostei muito deste poema. lê-lo é uma espécie de "matar a sede" ;)*
um grande beijinho, licínia.
"Voltou a ser água."
Não há só poesia nesta história simples do Zé da Fonte.
Há poesia nos versos que "aguardam as águas do meu peito"...
O ribeiro tornou às águas do rio, voltou ao Zé sem idade, fundiu-se em som de magia...
Deixo-te um beijo.
Seja ele qual for, o destino tem que ser cumprido, mas e se pudéssemos mudar de rumo? Será que chegariamos a um mesmo ponto no horizonte?
Beijos de rosas e vinho.
Que lindo, Licínia! Regressaste no teu melhor. Como quase sempre gostei muito do poema, mas foi a história do Zé da Fonte e da Rosa Maria que melhor comunicou com o meu "eue" (a celebérrima prosa azul da Licínia Quitério!)
Um beijo com muito afecto.
Acho o poema lindíssimo.
A composição muito boa.
Bjs
Gostei imenso. Como todas as vezes que cá venho, aliás.
(E vale sempre a pena "voltar à água")
Um beijo
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