26.5.24

O VERBO

 Este verbo dar com o reflexivo se

tudo inverte tudo torna e transtorna

e pode destruir o sujeito que dá

pois de tanto querer acrescentar

se encurtou diminuiu

e pouco ou nada de si restou.

O verbo lá ficou no seu modo infinito

a pairar a esperar a mão que colhe

o coração que aperta.

A rua está deserta e o verbo não conjuga

por se ter enganado no tempo do sujeito.


Licínia Quitério

25.5.24

SONETO 2

 Muitas vezes crianças somos todos.

Meninos cor-de-rosa a tatear,
Caindo dos adultos nos engodos,
Quebrando-lhes as fúrias a palrar.

Traquinas, transgredindo por prazer,
Tiranos, construindo a própria lei,
Brinquedos num segundo a desfazer,
Altivos, afirmando: eu é que sei.

Menino tal e qual te descobri,
Batendo o pé no chão, berrando à toa.
No mesmo instante foi que decidi

Usar o véu de amor que envolve e coa
O denso caldo de alma imerso em ti
E fazer triunfar a seiva boa.

Licínia Quitério

SONETO

 Era quase de noite quase dia

era tarde e era cedo para chegar.
Em nós o vendaval e a calmaria
à nossa frente glorioso o mar

a provocar desejos de aventura.
Partir à descoberta de outras ilhas
num veleiro carregado de ternura
desvendar tesouros e maravilhas.

Era quase de noite e não chegámos
à terra prometida ao fruto apetecido
mas nas pedras do cais onde aportámos

havia gente de coração erguido
a aguardar a esperança que levámos
de um homem novo das trevas renascido.

Licínia Quitério

1.5.24

LUGARES

 Lugares como pele por inteiro

Não importa quando foi por que foi
Estivemos respiramos fundo
Sentimos uma aragem penetrar-nos
Qualquer coisa de animal
Qualquer coisa de amante
Sem nos apercebermos o lugar possuiu-nos
Não não nos prendeu libertou-nos
Qual animal estimado
Amante generoso
Não pediu licença fez-se ao caminho
Sua pele nossa pele
Connosco veio e ficou
Para que dele falemos
No passado presente
Como de amor falamos
Eu fui eu tive
Um lugar que sou eu

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