A iludir o tempo
o homem de passagem
na areia escreve
dá a volta ao mundo
numa mão fechada
é grande e nada tem
Ano vai ano vem
Licínia Quitério
Talvez esse Poema que todos procuramos um dia assome a esta janela
A iludir o tempo
o homem de passagem
na areia escreve
dá a volta ao mundo
numa mão fechada
é grande e nada tem
Ano vai ano vem
Licínia Quitério
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Um poema modesto
De palavras pequenas
Esdrúxula nenhuma
As tónicas assim
Macias quanto baste
A fazerem-se ouvir
Sem nunca magoar
Os ouvidos atentos
De música sedentos
Um poema amável
A convidar sossego
A caminhar connosco
Devagar devagar
Um poema menino
Um poema adulto
Com a idade do homem
A vibração do sol
O silêncio da lua
Um poema a esconder
Entre panos de linho
Num colo de mulher
Tão pequeno o poema
Tão tímido o poema
À espera de nascer
Licínia Quitério
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As mulheres estão cansadas.
Já não carregam os filhos
já não acartam comida
já não suportam o cio dos homens.
A guerra deu-lhes o cansaço
matou-lhes os filhos
queimou-lhes a comida
levou-lhes os homens.
A guerra ensinou-as a caminhar para sítio nenhum
a beber as lágrimas onde a água não chegou.
Estão tão cansadas as mulheres.
Esquecido o ritmo das danças
movem-se comandadas pelos ossos
pelo som das fúrias.
Abrasadas pelo incêndio do céu
aos poucos vão esquecendo o próprio nome.
Guardarão o nome duma terra
onde sepultaram os filhos os homens
um ou outro animal.
Estão cansadas.
Caminham em círculos
às vezes tropeçam
às vezes ajoelham
em silêncio.
A guerra levou-lhes a fala
e as orações são inúteis
na terra esquecida dos deuses.
São mulheres cansadas de guerra.
Licínia Quitério
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