Aguarela de Tomaso Marcolla - Vento
O VALOR DO VENTO
Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento de verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em Agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
RUY BELO
Na minha terra o vento é companheiro assíduo.
No Inverno é rude, desatinado, apanha-nos ao virar de cada esquina e desacerta-nos o passo. Uiva como um lobo por dentro das chaminés. Não me mete medo. Conheço-lhe as manhas.
Na Primavera, à socapa, levanta as saias já mais leves das mulheres. Visto calças. Conheço-lhe a brejeirice.
No Verão, pela noitinha, teima em varrer as esplanadas e arrepia a pele ainda quente do Sol. Ponho sempre um xaile. Conheço-lhe a traquinice.
No Outono, apazigua-se. Faz-se uma doce brisa que me entristece quando a tarde desmaia. Conheço-o e deixo-me levar.
Se gosto do vento? Acho que sim. Quando se ausenta, sinto um pequeno desconforto. Como se me faltassem notícias de um amigo. Nasci nesta terra. Sou assim.
Licínia Quitério
O VALOR DO VENTO
Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento de verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em Agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
RUY BELO
Na minha terra o vento é companheiro assíduo.
No Inverno é rude, desatinado, apanha-nos ao virar de cada esquina e desacerta-nos o passo. Uiva como um lobo por dentro das chaminés. Não me mete medo. Conheço-lhe as manhas.
Na Primavera, à socapa, levanta as saias já mais leves das mulheres. Visto calças. Conheço-lhe a brejeirice.
No Verão, pela noitinha, teima em varrer as esplanadas e arrepia a pele ainda quente do Sol. Ponho sempre um xaile. Conheço-lhe a traquinice.
No Outono, apazigua-se. Faz-se uma doce brisa que me entristece quando a tarde desmaia. Conheço-o e deixo-me levar.
Se gosto do vento? Acho que sim. Quando se ausenta, sinto um pequeno desconforto. Como se me faltassem notícias de um amigo. Nasci nesta terra. Sou assim.
Licínia Quitério
10 comentários:
eu também...
Licínia, mas que coisa linda...
Como pode o vento ignorar-te?
Que namoro mais charmoso....
Beijinhos
belíssima análise de um afecto a partir de um igualmente belo poema. Bjs. Luz e paz
... e, no entanto, o poeta sabe-lhe o valor: oitenta escudos. Afinal, está tão perto e acessível o encantamento. Basta olhá-lo com olhos de quem quer ver para lém do imediatamente visível.
Retribuindo a amabilidade das visitas, com afectos.
é assim de facto o vento nestas terras de sintra mafra ericeira, tal como a bruma que vem de manhã e muitas vezes pela tarde tb....
lindo o teu poema.
Olá Licínia
Belo poema do RB.
(Só com o cálculo actuarial poderiamos saber quanto seria os estragos de então no valor de 80 escudos!)
Eu vivo numa terra que até tem um bairro cjamado «Pai do Vento», Imagina!
Bjs
...e nas asas do vento voamos partilhando os segredos...
Beijinho
Cara Licínia, gostei muito do seu blog e creio que o visitarei sempre que puder para comentar textos e apreciar a poesia.
Você já lançou algum livro?
Abraços,
Hortência
vale a pena vistar alguns blogs... este sem duvida é um deles...
Gosto de ir contra o vento...
Mas neste caso, acompanho-te na brisa das tuas belíssimas palavras...
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