20.1.07

OS PÁSSAROS



O dia há-de chegar,
com a capa de vento

a ondular

e cabelos de sol
a clarear
o côncavo das grutas.


Nas mãos, o riso dos meninos

e o canto dos pássaros.

Sempre os pássaros,

com seus presságios

álacres ou soturnos.


Estarei na minha torre,

a entrançar desejos

de tapetes de flores

e de águas borbulhantes

e de pássaros verdes.

Sempre os pássaros.

O dia há-de chegar,

a embrulhar de azul

o meu castelo,

a invadir a torre,

a incitar-me ao salto,

a colar-me nos olhos

a leveza dos pássaros.

Sempre os pássaros.


Irei.


Desde sempre os conhecemos. Em bandos ou solitários, nos campos, nas praias, nas cidades, os pássaros lá estão. Espiam-nos, chamam-nos, provocam-nos. Às vezes rasam-nos o corpo, sem se deixarem tocar. Cantam para nos acordar, gritam à procura do asilo nocturno ou aparecem de noite a piar tristezas. Louvam a vida e pressentem a morte. Habitam os troncos das árvores ou as moitas rasteiras ou as fragas nas alturas. Mergulham até ao peixe ou debicam as searas. Sabem tudo do vento e das tempestades. Livres, livres. Tão alto subindo, tão alto, são a nossa inveja, a medida da nossa pequenez. Nunca os poetas os ignoram. Ilustram-lhes os versos ou são os próprios versos. Quem pode imaginar um mundo sem os pássaros?

Licínia Quitério

31 comentários:

Isamar disse...

Alguém pode imaginar um mundo sem pássaros? Eu gosto de os observar logo ao raiar da aurora quando, em bandos,rasgam o céu azul, abandonam as cidades e procuram nos campos, nas searas e nas outras culturas os grãos que lhes servem de alimento.
Um bonito poema!

Alberto Oliveira disse...

Os pássaros são animais com penas e que voam como os aviões mas não levam passageiros nem precisam de aeroportos para levantar voo ou para aterrar o que é muito bom para a economia do país dos pássaros que não pensam na ota e já me esquecia que também não usam combustível pois basta-lhes o corpo própriamente dito para viajarem por diversas rotas aéreas. Tenho de confessar que há uma espécie destes animais com asas com que eu não atino: são as águias porque não são do sporting. De resto eu até não me importava nada de ser pássaro para poder voar para o calor quando aqui fosse inverno, regressar no verão e dizer ao meu amor "vamos namorar lá para cima que cá em baixo já não sabem o que é isso".

Carlos Alberto, 6 anos.

Anónimo disse...

Dir-se-ia uma simbiose... Um mundo sem pássaros nao seria o mesmo de facto! sao uns companheiros perenes, como nós, no entanto a espécie acompanhou a nossa historia, as nossas cidades, os nossos campos...acompanhou o nosso imaginario também. Bonito*

Alberto Oliveira disse...

Licínia:

... esqueci-me (distraido do caraças!!) de te dizer (eu sei que é uma repetição mas não me importo) que este teu blog é uma maravilha de leitura,
que tenhas um óptimo domingo e...

sorrisos e um beijo amigo e virtual do

Legível/Alberto Oliveira

Ana Ramon disse...

Olá Licínia. Não conhecia este teu cantinho. Vim aqui parar somente por acaso. Mas que feliz acaso e que prazer ler-te. Virei visitar-te muitas mais vezes. Embeber-me na paz que se desprende das tuas palavras. Um abraço

batista filho disse...

“Quem pode imaginar um mundo sem pássaros?”
... se até asas colamos nos modelos de pureza
que pra nós mesmos traçamos?
Que são anjos
senão seres emplumados
no afã de acompanhar os pássaros
na ilusória sensação que podemos transpor os muros
ultrapassar mesquinhos horizontes
lá do mais alto ver descortinar a liberdade ansiada...?
...
“Quem pode imaginar um mundo sem pássaros?”
Tu não podes, certamente, Licínia.

Um beijo carinhoso, querida amiga... e ao mesmo tempo, o meu “mui grato!”, por mais uma partilha deslumbrante e terna. Valeu!

jorge esteves disse...

Há quem diga que os pássaros não são mais do que humanos sonhos...
Afectuosamente

M. disse...

Tão bonitos os teus pássaros moldados em palavras!

Manuel Veiga disse...

atenção ao Hichcock. há pássaros e... pássaros! até pássaros "empalhados" ... rss

prefiro ver o mundo a partir da tua torre de marfim e a leveza dos teus versos.

Cusco disse...

No terreno lavrado de fresco eles andavam ás dezenas! Debicavam as larvas, as minhocas, as pequenas sementes! Encostámos as bicicletas e escondidos atrás de uma árvore fizemos parte do quadro e ouvimos a musica!
E o cheiro a terra lavrada!

António Melenas disse...

De pois das penas... os pássaros. da tua torre os observas. lhes segues o voo lhe cobiças as asas, Mas tu sonhas com a lonjura de um voo muito para além do horizonte que a vista alcança. Até eu me sinto volátil lendo (alto, como sempre faço) os belísimos versos que aqui nos ofereces
bjs.

JPD disse...

A suprema liberdade.
Tremendo ensejo!
:)

Maria P. disse...

Os pássaros...como eu gosto de os ouvir nas árvores da Esplanada Real, tu sabes:)

Gosto da suavidade da tua escrita.

beijinho amiga.

Ana Prado disse...

que entrega! Irei também, minha amiga, para conhecer o infinito dos pássaros.

Um abraço.
Virei
de novo buscar palavras.

Anónimo disse...

Orginal a forma com que apresentas os teus posts: poesia e prosa em perfeita harmonia... e beleza!
Parabéns!

aquilária disse...

há pessoas que são como os pássaros.


abraço, licínia

esse disse...

O sonho dos sonhos!!

Beijinho

Conceição Paulino disse...

não!
pq a metáfora e o desejo é o VÕO:
Bj
Luz e paz em teu camninhar e oa teu redor

Anónimo disse...

um voo, licínia. fiquei a planar. obrigada pelo estado de espírito proporcionado. um beijinho grande.

Maria Carvalhosa disse...

Querida Licínia,

Vi ontem, pela enésima vez, "Os Pássaros", de Hitchcock. Só ele (que eu saiba) conseguiu dar-nos o oposto desta imagem das aves que creio ser partilhada por quase todas as pessoas e é muitíssimo bem transposta para texto(s) por ti, minha amiga.

Um beijo terno.

bettips disse...

"...em bebedeiras de azul..."
E então as tuas asas delicadas libertam-se das letras. Sonhamos contigo o vôo. Mesmo que não venha. Bjinho

Rui disse...

No meu mundo imaginado não há gaiolas.

Rui disse...

O menino Carlos Alberto já tem idade para saber que só os pardais são do sporting. Aqueles para quem é o primeiro milho.

Teresa David disse...

Bastantes dos meus posts, tais como o último referem-se a pássaros, logo, como é óbvio só poderia ter adorado este texto.
Bjs
TD

Anónimo disse...

Gostei muito do teu espaço. Tens um toque especial nos poemas e nos textos que acompanham, mostrando uma pureza de alma que nos faz ler e reler os versos que imaginamos sairem de uma forma tão espontânea na sua criação.

Os pássaros nos dão essa dimensão do poder que o ser humano pode conseguir, quando abre suas asas para o sonho e deixa às largas a imaginação.

Deixo um abraço afetuoso para ti, e mais uma vez parabéns pelo espaço tão belo.

isabel mendes ferreira disse...

tb. tb vou.



obrigada.


abraço.




Texto de que gostei. muito. muito. muito.

vida de vidro disse...

São a encarnação do nosso desejo da liberdade do voo. Mas saberíamos nós o que é o voo, se os pássaros não existissem? **

Conceição Paulino disse...

Bj.
Luz e paz

Anónimo disse...

... Sabem até onde precisam; voam até onde podem!

:-*

Lembrei-me, por mera associação livre, de Marvão, de onde se vêem as costas dos pássaros quando voam.

PS - Ah, esse Legível! Sempre dando de sorrir! :-)

PPS - Respondi ao teu Maria Papoila na Casa de Maio. Tks! ;-)

José Carlos Brandão disse...

Impossível imaginar o mundo sem os pássaros. Eu não imagino nem a poesia sem os pássaros.
"Um poema deveria ser livre como o voo dos pássaros" - Archibald Macleish.
Um poema bem conseguido o seu, Licínia.
Abraços.

Bluuu disse...

Compartilho teu pensamento sobre estas belas criaturas aladas. Poderia eu divulgar teu voo fora da asa no meu blog? Saudações de além-mar.

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