Dias com um poema por escrever
a roer-me por dentro
a querer espreitar na fresta do desejo
de enfim poder dizer
como foi construído este alvoroço
quem acendeu o lume
e depois o apagou
onde mora o dono da casa que vagou
porque não morre o pássaro
se lhe morreu o canto
Dias ondulantes
de passos hesitantes
de febres e de frios
à espera do poema
que transporte a palavra
a enorme e única palavra
capaz de traduzir o nome da cidade
onde em verdade habito
e respiro e me deito
Sentia um cansaço frio que lhe escorria pelo corpo. Podia ser um manto líquido, herança das últimas chuvas. Caminhava como se o dia fosse uma encosta íngreme, sem sombras vegetais. Olhava o chão com a indiferença dos velhos nos jardins. Apoiou-se na beira de um poço e viu no fundo da água uma janela de luz difusa. Alguém passou e lhe disse: O que faz aí? É melhor afastar-se. Obedeceu. O cansaço era tão grande que não conseguiu dizer: Talvez lá em baixo haja um poema a descansar.
Licínia Quitério
P.S. Parece-me que o Sítio do Poema anda um bocadinho cansado. Por isso o vou mandar de férias. Voltará à conversa com os Amigos, revigorado por fortes ares, tranquilas águas. E deixa-vos beijos.
a roer-me por dentro
a querer espreitar na fresta do desejo
de enfim poder dizer
como foi construído este alvoroço
quem acendeu o lume
e depois o apagou
onde mora o dono da casa que vagou
porque não morre o pássaro
se lhe morreu o canto
Dias ondulantes
de passos hesitantes
de febres e de frios
à espera do poema
que transporte a palavra
a enorme e única palavra
capaz de traduzir o nome da cidade
onde em verdade habito
e respiro e me deito
Sentia um cansaço frio que lhe escorria pelo corpo. Podia ser um manto líquido, herança das últimas chuvas. Caminhava como se o dia fosse uma encosta íngreme, sem sombras vegetais. Olhava o chão com a indiferença dos velhos nos jardins. Apoiou-se na beira de um poço e viu no fundo da água uma janela de luz difusa. Alguém passou e lhe disse: O que faz aí? É melhor afastar-se. Obedeceu. O cansaço era tão grande que não conseguiu dizer: Talvez lá em baixo haja um poema a descansar.
Licínia Quitério
P.S. Parece-me que o Sítio do Poema anda um bocadinho cansado. Por isso o vou mandar de férias. Voltará à conversa com os Amigos, revigorado por fortes ares, tranquilas águas. E deixa-vos beijos.
20 comentários:
este sítio fica bem entregue para que o poema volte revitalizado. há dias em que apetece fugir. hoje é um dia em que apetece ficar. aqui e sempre. um grande beijinho. boas férias, licínia.
A verdadeira afeição
na longa ausência se prova., cantava Camões.
Não que se queira, aqui, a espera longa, que a espera já por si o prova!
Tempos sãos, amiga!
sacodem a solidão, por entre as migalhas de poeira, cada um dos passos firmes num passeio solitário.
para lá da estrutura auditiva, o ninho de palavras de um escritor sorve todos os ruídos que volteiam no mesmo mundo das cores, na mesma dimensão dos animais, plantas, construções e pedaços de natureza que se espalham ao longo da vida desse percurso.
eis o que pulsa no fervor da escrita.
cada página um campo de batalha, cada palavra uma adaga desse convicto vampiro do mundo de todos, de todos quantos agora foram sorvidos pelo seu mundo!
Que a pausa seja breve, este Sítio é um abrigo necessário e que agrada e muito.
Beijinho Amiga*
embala o poema.
canta ...
até já
beijO
Nasceu a luz sobre as cidades, agita-se a ilha no encontro com o dia, acorda a emoção, a suave brisa, amanhece o sonho que a vontade guia. A lonjura é a distância da viagem, a idade não cobre os rochedos, passam ventos de encantamento descobrindo mil e um segredos...
Doce beijo
Ficarei à espera.
Bjs
O poema regressará. Pujante e comovente, como sempre.
O cansaço, entendo-o. Bom descanso. **
Pena que se vá!
Porque adoro o que leio quando aqui venho!
Só espero que seja apenas uma pequena pausa!...
Olá irmã,
Percebo-te.bem. E o poema é muito bom. E beijos
como um poema a germinar por dentro...
beijo. bom descanso..
Bom (e necessário e premente e desejoso)regresso~!
Beijo
excelente poema, licínia. desejo-te um bom descanso.
... por pouco que os nossos blogs não se encontravam à mesa de uma qualquer esplanada* e iniciassem um diálogo nestes termos:
O SÍTIO do POEMA - Por aqui? Então o meu amigo não está a congeminar mais uma daquelas histórias fantasiosas lá no seu sítio? deu-lhe o quebranto, foi?
PAPEL de FANTASIA - Tem piada que só vim aqui tomar um café e depois, ala! que se faz tarde. Já dei descanso suficiente (por agora!) às letras e regresso ao "trabalho". Porque já sei que vai fazer uma pausa, desejo-lhe um bom e proveitoso descanso!
O SÍTIO do POEMA - E você escreva! não se deixe cair na tentação da mera leitura, que escrever ginastica a mente e os dedos. Até mais ver.
beijinhos.
Que te saibam bem, as pausas, de ti, de nós...e voltes. Com esse canto de pássaro vivo. Bjinhos
"...E ver esbater-se
O verbo na madrugada do sossego
Dos seios das virgens."
Beijo. Gostei muito. Bom descanso
Adorei ler! Bom descanso, bom regresso. Beijos.
beijo
nunca se esqueça que o mar desgrenhado - revolto e lindo - continua a não ter duas ondas iguais.aguardo que faça a diferença-
porque na vida sendo tudo relativo-
há pessoas que dão azul mais azul
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