Corridas as estradas
de chumbo e oiro e assombração
Silenciado o restolhar das follhas
nos pátios interiores
Sepultados os cães vadios
sob a raiva dos transeuntes de domingo
Apagadas as cores
das línguas maternais
nos discursos dos guardiões do templo
Vendida a onda verde das searas
e ninguém a reclamar colheitas
Perdidos os olhos vítreos da boneca
Afogadas em jarras as rosas de toucar
Sentada agora estou
- ou assim me vejo -
no sorriso lilás do jacarandá
florindo os dedos longos da idade
O nome decerto lhe foi dado por vozes quentes, tropicais. Só cantando o podemos dizer, a saborear-lhe as sílabas, prolongando a alegria da tónica: Ja-ca-ran-dáá. As flores brotam, triunfantes, decididas, a pincelar o negro dos braços nus. Dizem li-láás nos nossos olhos, na sala de espera de mais um verão. Retiram-se, discretas, quando o recorte verde das folhas se anuncia. Todos os anos as procuro nas velhas ruas da cidade. Receio que um dia lá não estejam. Quero que fiquem para contar do meu sorriso sazonal e da minha voz dizendo a quem passa: Vejam como estão lindos. Já floriram os ja-ca-ran-dáás!!
Licínia Quitério
de chumbo e oiro e assombração
Silenciado o restolhar das follhas
nos pátios interiores
Sepultados os cães vadios
sob a raiva dos transeuntes de domingo
Apagadas as cores
das línguas maternais
nos discursos dos guardiões do templo
Vendida a onda verde das searas
e ninguém a reclamar colheitas
Perdidos os olhos vítreos da boneca
Afogadas em jarras as rosas de toucar
Sentada agora estou
- ou assim me vejo -
no sorriso lilás do jacarandá
florindo os dedos longos da idade
O nome decerto lhe foi dado por vozes quentes, tropicais. Só cantando o podemos dizer, a saborear-lhe as sílabas, prolongando a alegria da tónica: Ja-ca-ran-dáá. As flores brotam, triunfantes, decididas, a pincelar o negro dos braços nus. Dizem li-láás nos nossos olhos, na sala de espera de mais um verão. Retiram-se, discretas, quando o recorte verde das folhas se anuncia. Todos os anos as procuro nas velhas ruas da cidade. Receio que um dia lá não estejam. Quero que fiquem para contar do meu sorriso sazonal e da minha voz dizendo a quem passa: Vejam como estão lindos. Já floriram os ja-ca-ran-dáás!!
Licínia Quitério
15 comentários:
Foi bom ver-te na Casa! Pensei talvez o Sitío tenha voltado de férias - e voltou!
Que bom, beijinho*
Bonito de se ler e de se ver
de jacarandás se faz a luz:
também amanhã...
abraÇO
o sorriso do jacarandá a beijar os teus dedos.
o abraço de sempre, ao qual acrescento hoje o prazer de saber-te por aqui, de novo
A Jacanrandá remete-se sempre para os livros de autores brasileiros, pois nunca vi nenhuma ao vivo e a cores.
Este blog continua sempre interessante e foi com prazer que o revisitei.
Bjs
TD
Ja-ca-ran-dáás!!...
Sem a voz quente, tropical, que não tenho, trauteio-o, também, a canção que alegra os teus olhos...
gosto dessas flores...
belas e perfumadas. cantantes de tanto lilás.
Olá! Decidi por fazer um blog para desabafos... criei-o, e, ao buscar algo para completar o que pensava, encontrei te blog!! Se quiser ler a sua própria contribuição com meus acréscimos, seja bem vinda!
http://www.metadeemmim.blogspot.com
O mais engraçado, pasme: quando entrei no seu blog, me dei conta que escolhemos inclusive a mesma configuração!! Na vida não há coincidências, não?!
Até mais!
É bom voltar a encontrar as cores das tuas palavras.
As flores do jacarandá voltam para nos inundar de beleza lilás. Como tu voltaste. **
Gostei de voltar ao sítio. Já tinha saudades dos poemas. E da prosa. Até logo. Maria Roque
Sorte a de quem mora perto da rua que recebeu de baptismo o nome Passeio dos Jacarandás.
Sorte maior a quem mora na dita cuja.
Estão bonitos.
Aqui, pelo Porto, há alguns. Mas um, velho e solitário, foi sempre a minha árvore: escutou-me os passos novos, viu os meus olhos de madrugada e escutou os meus humores solitários à tarde. Agora, vi-o, dolorosamente floriu, talvez, a sua agonia...
Mas outros serão sorrisos de Verão!
Abraço, amiga.
Um muito bonito poema, sem dúvida.
Nem todos são capazes de manter o mesmo tom, de princípio a fim, usando com destreza as palavras.
Vejam como é lindo o que escreves, Licínia. Nunca te afastes por períodos longos (peço-te, egoisticamente) fazes-me tanta falta!
Já agora, gostava MUITO de adquirir os livros que tens publicados. Diz-me onde posso encontrá-los, está bem?
Beijos, amiga.
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