Eu sei que devia falar
do relevo da cal
da agonia das nuvens grávidas de céu
do rolar do medo no olhar dos pombos
da gente nos terraços respirando a tarde
Mas prefiro dizer que
à luz duma lembrança
o mundo clareou como se a madrugada
na fundura do dia aprisionada
por mim se libertasse esquecida de morrer
Eu sei que isto de escrever poemas de amor a rimar com dor passou de moda. Sei que soa a banalidade aquela madrugada dita aprisionada. Sei que não valia a pena ter tentado um poema mais, com palavras de céu e cal e pombos. Sei, mas asseguro-vos que a serpente de nuvens que me caiu nos olhos, quando respirava no terraço, me fez, por momentos, perder o tempo e o lugar. Foi assim, como vos digo.
Licínia Quitério
23 comentários:
"Perder o tempo e o lugar"para escrever um poema com as palavras que as núvens e a vida nos sugerem, vale mesmo a pena. Um beijo.
As tuas palavras ficam diferentes. Como se estivesses no terraço do mundo, respirando a manhã. Límpida. Bjs
As tuas palavras revelam uma sensibilidade ilimitada, uma mulher doce que escreve lindos poemas.
Continua. Beijinhos
acredito: ah, como acredito!
assim como acredito que o dia é só um sonho
um sonho da noite de namorar o claro das estrelas.
a quem não sucedem estas alternâncias entre a vasta gama de cinzas e um súbito azul?
gostei da mensagem, talvez inconsciente, que um olhar atento pode descodificar: a de que o azul acaba, sempre, por ter mais "peso".
abraço grande, licínia
E ainda bem que a serpente de nuvens te caíu nos olhos. Pelo menos originou a possibilidade de podermos ler mais um poema teu, tão bonito, tão sensível.
E fiquei mais um pouco a ler os poemas anteriores, a saborear a beleza da tua palavra escrita.
Um beijinho grande
Perdoa, Amiga, a falha na identificação, rss! o "anônimo" tem nome, rss! - batista.
Aproveito para parabenizá-la pela beleza e profundidade dos textos com que nos presenteias.
Amigo Batista,
Na impossibilidade de te agradecer por outro meio, aqui te deixo o meu abraço e a gratidão pela tua fidelidade a este Sítio.
Fica bem e volta sempre.
E dizes muito bem.
Continua.
João Norte
intro.vertido.weblog.com.pt
Os teus poemas são de uma sensibilidade única, rara. Encantam-me sempre, embora, raramente te visite.
Beijinho, Licínia
Helena
Belíssimo, Licínia! Uma vez mais.
Há nevoeiros que são assim. Aderem a nós e ficam.
A inspiração é uma esquina viva. Como a tua foto hoje. Bj
E está encantador. Que bom voltar ao teu sítio e ler, após um lindo poema teu, naquela parte azul de que tanto gosto, igualmente, nos teus posts, que "está fora de moda um poema de amor a rimar com dor"... só mesmo a Licínia Quitério!... Sem mais comentários.
Beijos.
eu sei.
porque acredito em ti
e também sofro desse mal;
(não que escreva poemas d´amor
a rimar com os sentidos
que esse não é o meu ofício)
das suspeitas que o tempo
não está para amar.
que é uma época algo diversa
daquela que idealizei
de tal modo controversa
que sem querer até rimei...
mas a tua serpente de nuvens
(e o meu sísmico dragão de pesadelo)
que passam a moda desta estação
jamais se poderão opor
a que continuemos para sempre
a escrever a palavra amor.
É o que se me afigura escrever por agora.
Abraço.
Eu sei.
Eu sei, Amiga, que a tua poesia me toca, me enternece, me inspira.
Eu sei, Amiga, que poucas pessoas escrevem como tu, em verso ou em prosa.
Eu sei, Licínia, que tu és uma Alma superior, Senhora de uma sensibilidade e de uma arte criativa fora do comum.
Eu sei, Amiga, que gosto muito de tudo o que escreves.
Eu sei, Licínia, que gosto muito de ti.
(De vez em quando tenho acessos de necessidade irreprimível de confessar, aos alvos dos meus afectos, e ao mundo em geral, o quão importante é, para mim, o facto de existirem, com espaços maravilhosos onde já me sinto em casa, tal a afinidade que fui com eles criando ao longo do tempo. Contigo, aconteceu admirar-te desde as primeiras vezes em que te li. Continuas a ter uma das casas onde passo mais tempo, apesar de, por vezes, por ausência de coragem, face à consciência da minha pequenez em relação à tua grandeza, passar apenas sem deixar vestígios. De mim. Do que tu representas para mim, que frequentemente me sinto um mero produto sucedâneo da arte da escrita).
Um beijo grande, Amiga.
belo terno nuvens velas...
a vida escorre
a madrugada liberta-se é dia.
e todos os dias acende uma luz:
que oferece. nova...!! :)
beijO
Eu não estou tão certa disso. Começo a duvidar de tanto "passar de moda", de tanta retórica, de tanto seguidismo. O que eu sei é quando gosto dum poema, das suas palavras, do seu som, numa palavra - da sua poética. E deste eu gostei.
nunca uma "serpente de núvens", ("grávidas de céu") foi tão delicadamente vibração do tempo. e do lugar. (pre)sente-se teu peito ofegante.
um privilégio ler-te. excelente.
E ainda bem que foi assim.
Beijinho.
ai tanta a beleza da madrugada
em ti!!
:)
Há no teu poema a frescura dessa madrugada e o sentimento de pairar, sem tempo nem lugar. Fora de moda? Nunca. **
À luz duma lembrança, de uma só lembrança, podemos reaver o mundo!
E isso é tão universal como as núvens no céu, e a dor do amor... E as madrugadas, que, contudo, nunca se repetem.
Só isso já é poético.
Escrito por ti vira poema.
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