9.10.07

NÃO DEVO


Não devo falar de flores
em tempos favoráveis
à dor das oliveiras

Nem das verduras fáceis
em horas amparadas
a bordões nodosos

Tão pouco do veludo
do café negro pela manhã
agora que os comboios
perderam a estação

Direi então devagarinho
do desenho das dálias
na memória dos canteiros
da palpitação das asas
da borboleta em fuga
do silvo dos comboios
rasando as oliveiras


Hoje não me apetecem histórias de letras azuis. Fica aqui somente o azul de histórias por escrever. Espero que entendam.

Licínia Quitério

21 comentários:

Alberto Oliveira disse...

... entendo perfeitamente que hoje não te apeteçam histórias de letras azuis. Também tive dias asssim. Em que só me libertaria do incontornável dilema de "resolver o problema do branco de uma tela", pintando-a completamente de negro. Uma vez (uma única vez) fiz isso e expliquei a quem se surpreendeu, que aquilo funcionava como um grito de revolta. Que eu não queria ser refém de um vulgar pedaço de suporte de pintura. Responderam-me que eu devia estar lélé da cuca, porque naquele vulgar pedaço de tela, eu podia pintar um mundo de revolta com todas (e mais algumas) cores da minha paleta.

Desde essa dia, deixei de ser adepto da Académica e quando a Anais Nin (o meu papagaio-fêmea de estimação), morreu de velhice, vesti-me de amarelo e verde. Há coisas que não estão mais na nossa mão.

Saudações coloridas do teu

Simão Arco-Íris.

M. disse...

Licínia, já sabes que não so muitas palavras: - Fiquei comovida.

Unknown disse...

.

Já não são as flores o suficiente para embriagarmo-nos de plenitude?

Adorei,
Abraço!

.

Graça Pires disse...

Eu entendo Licínia. Diz só "então devagarinho do desenho das dálias
na memória dos canteiros..."
Um beijo

Klatuu o embuçado disse...

Gostei muito. Eu adoro a temática bucólica, gosto dos símbolos dionísiacos da terra.

Dark kiss.

APC disse...

Subsiste a força de o dizer, em todo o poema! E à força de o dizeres, mais não precisa ser dito. E assim é lindo!

Abraço Amigo.

APC disse...

Post Scriptum:

Não sei se te importas com estas "misturas", e arrisco-me a transgredir, pois deveria presumir que em blogs onde não há lugar a comentários, é para não haver comentários, ponto. Mas se me deixasses transgredir só um pouquinho (quem sabe só por esta vez?!), dir-te-ia que:

Venho de lá do Outro Sítio. Onde li uma história extraordinariamente bem escrita - a palavra e o tom certos numa personagem absoluta, cujas rugas de expressão quase que vejo, quando fala percorrendo uma palete de emoções).
Brilhante, a criança que se ergue frente aos carcereiros, em seus primeiros passos de uma liberdade que viria a poder ter!
Ressoa a expressão que mais nos compromete: "os caminhos percorridos ao arrepio do que sonhara".

Desculpa, mas tinha que to dizer! :-)

Vladimir disse...

todos temos dias em que o azul parece andar afastado, contudo, ele regressa (quer queiramos ou não), quando menos esperamos...
.......
adorei......

jorge esteves disse...

Pois não fales de flores...
O tempo, aziago que pareça, dá-te mote para o calor das castanhas ou o mel guloso dos disospiros...
Abraço.

un dress disse...

e chega.

a p e n a s


.a Z u L.


.b Or bO le Ta.



fffffffffffffff o vento a leva


às cambalhotas de asas...........:)





abraÇo.beijO

Mar Arável disse...

Nos dias de hoje parece que todos estão em fuga - até as borboletas.

Só que não é possível fugir

nem desejável

Estamos numa ilha rodeada de sonhos por todos os lados

Pergunte ás oliveiras

Amaral disse...

Gosto de flores e das oliveiras, mas não de café ao amanhecer...
Também me deixam fascinado as asas duma borboleta muito mais do que o silvo dos combóios...
Foi neste poema que vim recordar tudo isto!...

vida de vidro disse...

Melancólicos são os comboios que vão passando na vida. E os dias em que o azul não nos apetece. Disseste o que tinhas que dizer. **

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

Vamos por partes e as partes não serão três como gostaria o Júlio César, mas não se pode satisfazer toda a gente.

Comecemos pela segunda e última parte: só agora compreendi o que são as histórias de letras azuis. Que parvo! Claro, não há a obrigação. Por isso sobra muitas vezes a tinta. Às vezes derramo-a sobre o papel e representam para mim as lágrimas das histórias que não escrevi. Não sei se é azul, tenho algum daltonismo para as cores das letras. Fazes questão que seja azul. Pois bem, vou imaginar um extenso céu azul sem núvens a passar.

Voltemos à primeira parte à poesia de letras negras. Aqui a coisa está mesmo negra: dores das oliveiras, comboios que perdem estações e tudo, tudo o resto, parece estar baralhado.

Brinco, é o meu natural. Mas gostei muito. Acho que tens muita queda para o "fazer" (poiesis). Parabéns.

Manuel Veiga disse...

que o (teu) azul regresse. breve.

(guardo a "melancolia das dálias" em teu belíssimo poema!)

~pi disse...

fechar os olhos


esboçar o arco-íris



.

hfm disse...

E chegou aqui uma dicção perfumada de poesia.

Cusco disse...

.

Anónimo disse...

de link em link aportei e li alguns textos.

gosto do que aqui se escreve :)

Teresa David disse...

Muito belo o poema fosse em azul ou qualquer outra cor. Fez-me lembrar a fantástica poesia de Bernardim Ribeiro tão bucolicamente linda.Voltei!
Bjs
TD

Anónimo disse...

"Fica aqui somente o azul de histórias por escrever. Espero que entendam."

tuas palavras
notas d'uma canção ao vento
mote pr'outros versos
na ilha que me habita

grato

(batista)

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