9.3.11

AINDA QUE QUISESSSES


Ainda que quisessses, como poderias sequer pensar "Não valeu a pena."?
O vento gélido perfurou-te a manta e arrefeceu-te o sono?
Mandaram-te calar a pequenez da tribo e a avidez do chefe?
Foi a ti que disseram "Sai do meu caminho e deixa-me brilhar."?
Riram-se quando pediste "Não me dêem jóias que me pesam nos ossos."?
A chuva foi tão bruta que te alagou os sonhos? 
Foste tu que gritaste "Nunca mais!" e agora ouves o riso das hienas reclamando o festim?
Tudo isto foi contigo, em ti, na tua carne, no teu choro, no teu luto de tantas mortes, no teu longo tempo de lobos e de rosas.
Foi por elas, pelas rosas, que enfrentaste o abismo e regressaste, incólume, de sorriso entre as mãos, com a voz vestida de palavras sonoras, tranquilas, aladas, prontas para a partida.
E há mais.
A laranjeira fértil, sobranceira, que te obriga a dizer, ajoelhada, aturdida, plena "Sim, valeu a pena.".
E continuas, na senda perfumada dos desejos que por ti frutificaram. 

Licínia Quitério   

4 comentários:

Lídia Borges disse...

Um olhar sobre o passado que floresceu e deu fruto. Dádiva para futuro...
Assim, vale a pena, vale sempre a pena este sítio, tão especial.

L.B.

Justine disse...

A dignidade intacta, sim, valeu a pena!

Graça Pires disse...

Vale a pena continuar a ler-te. Belíssimo texto!
Um beijo.

Mar Arável disse...

Valeu

Continua a valer a pena
Excelente como sempre
estimada amiga

Bjs
Tudo farei para estar em Mafra

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