2.3.11

PODIA DIZER-TE

Podia dizer-te a luz da tarde acesa na janela,
ou a alegria envergonhada das ramadas,
ou as vozes dos amigos esboçando um fado,
ou a  nostalgia das bandeiras reclamando pátrias,
ou ainda as casas, sim, as sábias, astutas casas
debruadas de amores e perdições.

Podia até pintar uma aguarela, ou escrever um poema,
ou modelar um rosto, ou compor um adágio,
ou soltar um grito, ou correr, ou saltar,
ou abraçar-te, ou lançar um papagaio de papel
e depois dizer-te: Vês, eu não sei nada. Ou então:
Que queres de mim? Ou (porque não?): Amo-te.

Não podia dizer o coração da terra
nem a esperança fechada nas mãos dos homens
quando sofrem.

Licínia Quitério 

7 comentários:

Joaquim Pessoa disse...

Eu poderia dizer-te tudo, poderia argumentar tudo, poderia usar todas as palavras para falar do teu poema, mas não. Apenas isto: transpira humanidade.

Maria disse...

É muito belo, este poema.
Fico a relê-lo e saboreá-lo com a intensidade que merece.
Julgo eu...

Beijo, Licínia.

hfm disse...

Um final que gostaria de ter escrito!

Justine disse...

As mãos irão abrir-se um dia, e a esperança irá voar!
E a tua poesia ajuda tanto...

M. disse...

São amplas as tuas palavras neste poema tão generoso. E a fotografia que espreita é linda.
(As tuas fotografias actuais são rendas.)

Manuel Veiga disse...

as mãos dos homens que sofrem sufocam os cânticos! mas não a (tua) humanidade solidária...

belíssimo.

beijos

Eduardo Baptista disse...

Comentário? Não me atrevo, porque tudo o que dissesse poderia ser redutor. Há coisas que é difícil comunicar através da palavra. Teria que ter o talento e a poesia que me falta. Obrigado Licínia por partilhares estes belos pensamentos. Obrigado também pelo convite que me permitirá compartir mais uns belos momentos, Sábado, dia 12, no lançamento do teu Livro.

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