28.3.12

CORRE, CAVALGA


Corre, cavalga, corre



Tanto mar, tanto ar,
tanta espuma de tempo,
tão alto o céu,
tão funda, tão funda,
essa morte vivida


Corre, cavalga, corre,
mensageiro e mensagem,
aflição e aflito


Corre luz, corre vento,
cavalga o dorso, 
o pescoço e o ventre


Sê a janela e o grito,
o silêncio das rosas,
a paz do suicida,
a ordem e o caos


Cavalga, corre,
ateia o fogo, apaga o fogo,
diz os nomes dos peixes,
devora os peixes


Chora a morte dos anjos


Sê viandante e estrada,
obreiro e construção


Corre, cavalga, corre
e ri, humanamente,
da falência dos deuses
no tempo da alegria, ri


Licínia Quitério


Foto de Rui Medeiros

6 comentários:

Benó disse...

Lindo poema , Licínia.
Parabéns ao fotógrafo, também.
Onda feita espuma,vaga varrendo a praia,ambas crescem, se entrelaçam e devoram.
Um abraço.

Justine disse...

Que fazer senão correr, cavalgar, correr e ser tudo o que preciso é!
Que força sai do teu poema, amiga!
Que magnífica foto escolheste para o ilustrar!
Abracinhos

Mar Arável disse...

Que rebente nas escarpas

e seja luz

Bjs

M. disse...

Que ritmo, meu Deus, na força das palavras!

George Sand disse...

Lindo o poema, a desaguar as palavras, na mansidão do areal.

Uma boa Páscoa!

Manuel Veiga disse...

um riso de palhaço pobre. de altiva amargura...

beijo

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