14.3.12

MARÇO



Nas copas o mês de Março abre florações de seda pura. Os seios das raparigas enfrentam o vento da tarde e endurecem. Rapazes cortam os pulsos quando os sentem perto. A lua cheia durou três dias e os cães cansaram-se de uivar. Quem olhou o poente cor de sangue viu um cavalo negro a galopar a galopar até ao sol até ao fogo até ao fim. A sujidade das ruas é o despudor da seca a confundir os velhos na contagem dos dias. Nas noites faz-se um tilintar de guizos um chiar de madeiras um cheiro a estábulo. Tempo de demónios de bruxas de almas peregrinas. São os idos de Março dizem os adivinhos os filósofos os poetas as virgens loucas. Ouve-se ao longe o estrépito dos impérios dizem os políticos os doutores os miseráveis. É o amor que chega dizem as raparigas afagando os seios.

Licínia Quitério   

5 comentários:

hfm disse...

Belo texto!

Justine disse...

É tudo isso junto - e é acima de tudo a poesia neste teu texto esplêndido!

Manuel Veiga disse...

também são as "aguas de março" - matriciais...

belíssimo.

beijo

Era uma vez um Girassol disse...

Maravilha...nos idos de Março!
Ainda ontem estive a ver palavras escritas por ti no girassol, quando começaste aqui na blogosfera...Quanto cresceste, poetisa! Sempre a partilhar as tuas belas palavras e imagens.
Grande beijinho, Licínia.

M. disse...

As cores de um texto muito belo em ritmo de profecia testemunhada.

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