28.5.14

NÓS


Não somos mais que este país de sol e sombra, a arder, a gelar, valentaço e brigão, amedrontado e frouxo, muito sexo, pouco sexo, muito siso, pouco siso, de multidões a celebrar ou a apupar o que foi, o que há de ser, o que nunca será. Tudo verde, muito verde, enquanto a seca vai, a seca vem, que assim se fazem as cousas, assim se cumprem as vidas. Somos assim, mais de riso que sorriso, mais de soluço que choro, muito guardados em nós, que de aberto nos basta este céu escandaloso que apetece fechar na gaveta dos fundos e tirá-lo de lá, mais comedido, no dia da festa que fazemos, bem ao nosso jeito, sem cuidar de saber que jeito é esse que dizemos nosso. Somos povo, povoléu, populaça, bem calhados na troça e na chalaça, a rimar, a trautear no banho as canções de antanho, as que ficaram presas no ouvido, húmidas do suor das madrugadas que tivemos ou não tivemos, conforme a história a ser contada ou a ser calada, conforme o dia acabe vestido de sossego ou de veneno. Somos assim, iguais a outros mais, mas sempre de nós mesmos desiguais.

Licínia Quitério 

3 comentários:

vieira calado disse...

Eu, para sintetizar, digo que os portugueses só sabem rir... e chorar!
Beijinho para si!

Graça Pires disse...

" Somos assim, iguais a outros mais, mas sempre de nós mesmos desiguais."
Gostei do teu texto que tão bem nos define.
Um beijo.

Manuel Veiga disse...

... somos assim! - e de vez em quando um fogacho!

gostei muito.

beijo

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