4.7.14

A OLIVEIRA

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Tu, que nasceste depois da oliveira, e os teus irmãos depois das irmãs dela, ao pé dela viveste, dela fugiste e a ela voltas e a olhas agora como se de árvore fosses mãe e, serena, a cuidas para que não desista, não se negue ao inverno e entregue os frutos. As folhas tombam sobre ti, em teu redor, e as vais somando como dias, e o total da soma nunca saberás. Por cada ramo novo, uma lembrança de outros ramos que quebraram, arderam, só por dentro, para não amedrontar os animais. Porque conheces a compulsão das seivas, tronco abaixo, tronco acima, em ti não se abre o espanto pelo rumor de vozes muito antigas que dizes, a quem te perguntar, ser o roçar de rendas no soalho. Ninguém pode saber os termos do contrato que com ela firmaste, sendo tu menina e nua e a oliveira o teu palácio de ventura.

Licínia Quitério 

2 comentários:

Mar Arável disse...

Hoje plantei uma oliveira

não sei porquê
e muito menos se foi no sítio certo

Manuel Veiga disse...

o vento amacia nos ramos de oliveira e na beleza das tuas palavras...

beijo

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