4.11.16

A TRANSPARÊNCIA



Acordo cedo e tropeço no silêncio da casa,
como se fosse de noite,
como se fosse Domingo.
É um silêncio que se prolonga pela rua
e tem a transparência dos véus das concubinas
resgatadas por Sherazade.

“Ouvi agora, senhores, uma história de pasmar".

Assim começa a história.
Um ramo  de histórias.
de pedaços de histórias
que eu ouvi contar
há muito muito tempo,
quando ainda não havia silêncio pela casa
mesmo que fosse de noite,
mesmo que fosse Domingo,
e eu nem sabia da transparência dos véus,
o que só aconteceu mais tarde
quando o livro de histórias acabou
e eu me perdi no labirinto.
Esse sim saltou do livro
e fez-se  a casa e os corredores da casa
que percorro e torno a percorrer
sem que ninguém me veja,
bem oculta na minha própria transparência.

Agora ouvistes, senhores, esta história de pasmar.

Licínia Quitério

2 comentários:

bettips disse...

Hoje o dia, hoje a tarde.
Como o desejo: Licinia no País das Palavras Maravilhas, com o gato que sorri, o coelho que Alice persegue, com a poção mágica que faz diminuir/aumentar, a Rainha-Dama de Copas sem maus pensamentos.
O jardim das Rosas.
Abraços de quem lembra.

Graça Pires disse...

Estava a ler o poema e a ouvir a tua voz a lê-lo... Muito belo!
Uma boa semana, minha Amiga.
Um beijo.

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