30.11.18

A AUSÊNCIA


É preciso partir. 
Amarrar viagens ao bordão de saudades 
que bem cedo florescem.
Fechar as asas da insânia

a pairar sobre os leitos.
Nas mesas espalhar o mel 
para que voltem as abelhas.
Visitar as aldeias da infância 
que tão mal conhecemos. 
Nunca retroceder, antes correr
ao encontro das vozes dos ausentes.
Fugir dos precipícios que sorriem,
dos cães danados,
do voo das harpias,
da boca de lava dos tiranos.
Decifrar a escrita do vento
nos livros das florestas.
Nunca dormir antes do ocaso.
Nunca dormir depois do ocaso.
A viagem não se faz de noite nem de dia.
A viagem navega em nossas veias
onde não há luz nem escuridão.
Quando partimos começamos
a construir a nossa ausência.
Também se pode dizer a eternidade.

Licínia Quitério

3 comentários:

Mar Arável disse...

Estamos sempre a partir
Bj

Graça Pires disse...

Uma lista de coisas a fazer ou a refazer…
Uma boa semana, minha Amiga Licínia.
Um beijo.

Unknown disse...

Um belo poema. Do tamanho da nossa viagem.

Lino Sebastião

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