25.9.19

AUSÊNCIA





Difícil titular o que não é
senão a leveza do fumo a custo percebido.
A macieza numa mão fechada,
o esboço de sorriso, só o esboço,
a promessa de abraço que não passou
de um parêntesis recto em demasia,
o beijo numa pressa a descolar da pista,
o banco da reforma com a tinta a estalar e
um abutre, ou um anjo, lá no alto
a espreitar.
O táxi que nos pega nas horas de dormir
e, no fim da corrida, um deus branco a acenar.
O café, a morfina do social correcto,
com cheiro a roças e a negros de cetim.
A mulher que lamenta não ser capaz de rir ou
o louco em gargalhadas com vidros no olhar.
O falar por falar -
rosário de palavras ou contas por contar.
A ausência, pois, a ausência.

Licínia Quitério, em Da Memória dos Sentidos

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