O nome que constava dos documentos era Adolfo Correia da Rocha. O seu rosto tinha ângulos de rocha granítica, arrancada às serranias que o viram nascer, mais propriamente em São Martinho da Anta, onde, como o nome sugere, homens ergueram, com rochas, uma anta. Contra a ditadura, a sua atitude foi firme como se diz de uma rocha. Presentemente, podemos ver-lhe o vulto esculpido em rocha.
Este Homem, que parecia transportar um destino de durezas e asperezas, foi capaz de escrever poemas de uma brandura, de uma suavidade, capazes de fazer estremecer o coração mais empedernido.
Quem alguma vez poderá dizer qual é a substância dos poetas?
Talvez, sabe-se lá, eles sejam rochas feitas do pó das estrelas.
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso, ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz.
MIGUEL TORGA
4 comentários:
A forma como descreves Miguel Torga é por si só um poema.
Adorei.
Bjs
"Quem alguma vez poderá dizer qual é a substância dos poetas?
Talvez, sabe-se lá, eles sejam rochas feitas do pó das estrelas."
Que beleza...
Não conhecia o poema, a falar de si mesmo!
L.Q., cada vez sinto mais prazer ao ler os teus posts, as tuas descrições!
Bem Hajas!
Estou encantada...
Bjinhos
Olá Amiga!
Miguel Torga, um dos meus autores preferidos, sendo de granito era (a meu ver) duma doçura ímpar!
Sabia falar de amor duma maneira especial, por dentro das palavras;
por isso o elegi. E é tão bom ver que esta minha afeição é compartilhada!
Um beijo da
Maria Mamede
Gosto muito da poesia de Miguel torga, que infelizmente, como quase tudo a que a cultura diz respeito, é tão mal divulgada. Curiosamente o único poema que sei de cor, é dele.
Beijos
Teresa David
Enviar um comentário