Robert Delaunay - Sol e Lua
Nestes dias solares,
desassombrados,
em que um sopro nos toca,
dissimuladamente,
e se serve de nós
e nos penetra sem pedir licença
e nos põe a vibrar
como um velho instrumento
esquecido de soar,
queria ser um lagarto
imóvel, esverdeado,
determinado a enganar a vida,
filá-la, distraída,
escondida
em ternuras de pomba
e garras de falcão,
saltar,
morder-lhe a mão,
nela deixar os dentes
como quem espeta no Sol
um ferro em brasa.
Poder, enfim, esperar solenemente
a Lua,
Senhora das Frescuras e
cavalgar ribeiros e remansos.
Licínia Quitério, "Da Memória dos Sentidos"
Lua dos enamorados. De Julieta, em resposta a Romeu: "Não jures pela Lua que é inconstante." Lua dos poetas."Uma noite por ano Uma noite pelo menos/ assaltemos o céu e a Lua aprisionemos" (David Mourão Ferreira em DIDÁCTICA). Lua dos astrónomos a beberem-lhe os eclipses. Lua dos astro-navegantes que até ela se atreveram e lhe roubaram pedras. Lua das nove luas dos meninos por nascer. Lua cheia dos uivos dos lobos e das fêmeas no cio. Lua nova tão nova quanto promessa de Lua. Lua com um quarto a crescer e outro a minguar. Sete Luas de Blimunda para Sete Sóis de Baltasar. Ney Matogrosso e a sua Lua Feiticeira. Lua prata da noite. Lua espelho de cabelos de nuvem. Lua de Pierrot sem Columbina. Minha amiga Lua.
Licínia Quitério
Nestes dias solares,
desassombrados,
em que um sopro nos toca,
dissimuladamente,
e se serve de nós
e nos penetra sem pedir licença
e nos põe a vibrar
como um velho instrumento
esquecido de soar,
queria ser um lagarto
imóvel, esverdeado,
determinado a enganar a vida,
filá-la, distraída,
escondida
em ternuras de pomba
e garras de falcão,
saltar,
morder-lhe a mão,
nela deixar os dentes
como quem espeta no Sol
um ferro em brasa.
Poder, enfim, esperar solenemente
a Lua,
Senhora das Frescuras e
cavalgar ribeiros e remansos.
Licínia Quitério, "Da Memória dos Sentidos"
Lua dos enamorados. De Julieta, em resposta a Romeu: "Não jures pela Lua que é inconstante." Lua dos poetas."Uma noite por ano Uma noite pelo menos/ assaltemos o céu e a Lua aprisionemos" (David Mourão Ferreira em DIDÁCTICA). Lua dos astrónomos a beberem-lhe os eclipses. Lua dos astro-navegantes que até ela se atreveram e lhe roubaram pedras. Lua das nove luas dos meninos por nascer. Lua cheia dos uivos dos lobos e das fêmeas no cio. Lua nova tão nova quanto promessa de Lua. Lua com um quarto a crescer e outro a minguar. Sete Luas de Blimunda para Sete Sóis de Baltasar. Ney Matogrosso e a sua Lua Feiticeira. Lua prata da noite. Lua espelho de cabelos de nuvem. Lua de Pierrot sem Columbina. Minha amiga Lua.
Licínia Quitério
10 comentários:
Gosto da força e do estilo forte e solto
Beijos
cara licínia,
agradeço as suas palavras no meu blog
tem livros editados?
posso saber onde encontrá-los?
desde já, muito obrigada
um grande beijinho
alice
Licínia, sinto-me tão pequenina para comentar este post fantástico pela sua profundidade e beleza...
Mas imagino-te, cabelos de prata em nuvem, tu própria, lua de brilho nacarado e feitiço de mulher.
Muito bonito, poetisa!
Bjinhos
nós, seres lunares.
gostei de fazer esta visita, mesmo que apressada. quero voltar aqui, com mais tempo.
um grande abraço
Muito bonito.
um beijo vizinha
Quem me dera ser lagarto Licínia... quem me dera!!!
Este poema é fantásticamente lindo... saio "cheia" depois de te ler.
Cara Licinia:
Inmensos, bellos, frescos con el frescor del rocío en las hojas al amanecer, serenos con la serenidad del agua en los remansos...tus versos fecundan el alma.
Voy a hacer de adivino, con la certeza de que me equivoco.
Me parece que te encanta el cine: "...siempre esperando por el cartero". "...Carpe diem", y la referencia qu.e haces a los Amantes de Teruel, y a Don Juan...
Te felicito.
Eres reflexiva, aprendes y procuras entregar a los demás, generosamente, lo sprendido.
Tus versos rezumen nostalgias, quizá un tanto de tristura: "tenho un jardim de encantos que sabe todos dos meus segredos de menina...", como los duendes de mi jardín.
O esa brisa "que nos penetra sin pedir licença".
Finalmente, la belleza del canto al amigo. Me parece que no se puede definir mejro la amistad: "...a casa do amigo naô ten chave".
Perdona el atrevimiento, la osádía en entrar en tua alma, sin pedir permiso, un poco a traición...
No temas, guardaré secreto. Y rezaré por tí al Amigo, el que, con plena seguridad, tiene su puerta siempre abierta y no se marcha. Dice el Poeta castellano: que tiene, por amor, las manos en la Cruz clavadas.
Te invito a visitar mi casa. No es tan bonita como la tuya, pero intenta ser acogedora.
Un fortísimo abrazo.
A tua poesia flui como a água. E que bem nos faz essa esperança de lua nestes dias solares...
Beijinhos
http://mulher50a60.weblog.com.pt
Lindíssimo, Licínia!
Adorei teu blog e estarei sempre que possivel passando para ler pois além de lindos, os poemas, de certa forma, me preenchem...
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