Helena Vieira da Silva - Biblioteca
Batiam asas mas
sempre tropeçavam
em borboletas brancas.
As sílabas
na busca do palácio
das palavras.
Assim dizias tu
a desculpar
a visível mudez.
Quando a chuva lavava
a pobre fala dos homens
choravas letras
dentro dos dicionários.
As estantes gemiam
ao peso das ideias
afogadas.
As larvas entretinham-se
a devorar discursos.
Não desesperaste.
E o dia aconteceu
em que disseste
a única palavra permitida
a quem pela voz dos anjos se perdeu.
O menino disse: Vem.
A menina disse: Fico.
O menino disse: Porque ficas?
A menina disse: Sou assim.
O menino disse: Já viste o bosque?
A menina disse: Gosto de medronhos.
O menino disse: Eu trepo às árvores.
A menina disse: Tenho medo das cobras.
O menino disse: Gosto muito das tuas tranças.
A menina disse: O meu pai é poeta.
O menino disse: A minha avó é Maria Isabel.
A menina disse: Estou cansada de dizer tantas coisas.
O menino disse: Quando for crescido compro um avião enorme.
A menina disse: Deixas-me encher o avião de letras?
O menino disse: Deixo.
A menina disse. Vou.
Foram bonitos para sempre porque falaram juntos muitas palavras felizes.
Licínia Quitério
10.8.06
DAS PALAVRAS
partilhado por Licínia Quitério às 10:06:00 da tarde
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16 comentários:
De repente pensei na enorme biblioteca do "nosso" convento.
Uma boa noite, beijinhos.
Que bonito! Que bonito!
Belíssimo! Vale a pena começar o dia a ler as tuas palavras que tão bem harmonizas. **
Não sei como explicar mas ao ler estas palavras a preto e a azul é como se sentisse um "desentendimento" em harmonia. É assim a procura das palavras entre os homens? São tão bonitas as palavras dos homens!
2 momentos de rara beleza.
beijinhos
Não queres participar num jogo que estamos a fazer no Palavra Puxa Palavra www.outrostemas.blogspot.com: Fotodicionário. Regras no post de 25 de Julho.
Fantásticos :)
Sonhei com as palavras .
bj**
mais belo que essas palavras só mesmo mais palavras...
beijo vagabundo
já há algum tempo que aqui não entrava, pois o link que tenho no meu blog não estava a abri-lo, tenho de ver o que está mal, contudo, pensei que tivesse mudado ou sido extinto. Ainda bem que o reencontro, pois é dos que gosto amiude de visitar para vir ao encontro das coisas talentosas e bonitas que por cá encontro.
Um beijo
Teresa David
Pronto! Já fui ao template do meu blog e descobri pq não acedia ao teu. Uma pequena gralha alterava a entrada. Agora já posso visitar-te mais assiduamente outra vez.
Bjs
TD
Espectacular.
Ainda por cima junto com o meu quadro favorito da Vieira da Silva!
O meu feriado ficou mais rico...com este momento lindo.
"...Não desesperaste.
E o dia aconteceu
em que disseste
a única palavra permitida
a quem pela voz dos anjos se perdeu."
Um abraço e um sorriso do tamanho do mundo ;)
A árvore é linda! Uma vez por ano se enche completamente de flores. Temos o ipê amarelo, o rosa e o branco. Imagine o rosa! Ele é maravilhoso!!
Sou apaixonada por ipês. Aqui na frente de casa temos um enorme, que brilha bastante no sol.
Bom saber que te fiz conhecer mais uma obra-prima da natureza!
Beijos
Para te dizer obrigada ...gosto de te encontrar mas
mas
mas
só o tempo passando, disse.
mas
continuo a ter "alguns" momentos para a beleza destes amigos e amigas, com outras palavras doces que ás vezes, não sei dizer. Abç
"La biblioteque humoristique" ... de Vieira da Sila ! Foi bom, também, "recordar" esta pintura...
Nao está longe de ser a minha biblioteca que aparece em sonhos. Adoro esses castanhos, que me fazem perder no pó que cobre as minhas nostalgias.
Obrigado pela passagem no meu blog...
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