19.9.06

VIRÁS

Fragonard

Virás solene e belo

com o brilho da prata
e o verde dos limos
e a maciez das pétalas
e a ternura inconfessada
dos guerreiros.

Sorrirás pelos trilhos da alva
desviando as facas
domando as fúrias
do meu descaminho.

Perguntarás:
Mulher quem és agora?
Lavarei as mãos
nos meus ribeiros
para nelas beber a tua voz.

Não te responderei
antes do anoitecer
quando o meu corpo
se esquecer do cardo
e se fizer o lírio.

Aguardarás sereno
como uma prega
na espádua do tempo.

A hora chegará
de retalhar as cordas
e atravessar o espelho
e apagar o lume
na casa da montanha.

Só então te direi:
Sou a pedra de canto
do sítio que habitavas.
Meu nome um monossílabo
como tu como eu
como chão como céu.

Licínia Quitério


Vou fazer uma pausa. Espero regressar brevemente. Este convívio é precioso demais para desistir. Que a Poesia, como eu a sinto, vos acompanhe.

Licínia

28 comentários:

JPD disse...

Não deixes de voltar

M. disse...

Ó Licínia, então deixas-nos assim sem mais nem menos? Vamos sentir a falta deste diálogo de palavras em preto e azul. :-(

Diafragma disse...

Fico aqui à espera.

Lord of Erewhon disse...

Muito bonito, gostei do tom «clássico».

Maria P. disse...

Volta depressa, senão vou à tua procura aqui por Mafra!

beijinho vizinha:)

Anónimo disse...

As pausas são necessárias...um até já...deixo um beijinho! :)

Anónimo disse...

Até muito em breve, Licínia. Ficará entre nós, a poesia. Assim, como a sentes. Como a sentimos.

Um abraço grande.

alice disse...

querida licínia,

espero que esteja tudo bem, gostei muito deste poema, comovente e comovido, se me permite a opinião.

também me ausente por alguns dias e regresso em outubro na esperança de a reencontrar de volta também.

um grande beijinho,

alice

vida de vidro disse...

"Sou a pedra de canto
do sítio que habitavas."

Lindo, isso! Volta, fazes muita falta por aqui. Um beijo

carteiro disse...

Gostei das palavras...
As pausas fazem crescer os poetas!
Até ao teu regresso.

Isa e Luis disse...

Gostei muito do teu poema.

Um beijo
Luis
http://gentepaisagens.blogspot.com/

GTL disse...

Gostava de saber escrever assim...
Parabéns :o)
TG

Manuel Veiga disse...

não sei que mais admirar no teu poema. se o ritmo, se a beleza das imagens e metáfora. se a intensidade do sentir.

boas férias...

Maria Carvalhosa disse...

Boa pausa, Licínia.

Até breve.

Um beijo.

Era uma vez um Girassol disse...

Passei para deixar um beijinho e esperar que essta pausa faça frutos saborosos ...para nós!
Até lá!

De Amor e de Terra disse...

Olá Amiga!
Também andei perdida por aí e estou de regresso.
Vim saber de si e fiquei encantada!
Que belo este poema, quanta doçura, quanta força, que BELO realmente!!!
Um beijo de Parabéns da
Maria Mamede

Maria P. disse...

Psiu! Vizinha! Está na hora de regressar...

JP disse...

A blogosfera é um caminho virtual e tortuoso.
Bom afastamento!

gato_escaldado disse...

Hora de "apagar o lume
na casa da montanha"?!...

Que pena! E que poema tão belo...

beijos

Alberto Oliveira disse...

Regresso da minha pausa e leio-te na tua pausa. Pausadamente desencontramo-nos mas na certeza do encontro breve. E poéticamente* sentido.

*No meu caso, com uma pitada de ironia à mistura.

beijos e óptima pausa.

Titá disse...

Volta rápido, por favor!
Fazes-me falta...gosto de sentir a tua forma de sentir a poesia....
beijo

aquilária disse...

até breve, amiga. também há poesia na espera.

belo poema (dois seres que se habitam mutuamente,também antes do encontro, do outro lado do espelho, num mundo mágico)
um beijo e o meu apreço

Diafragma disse...

Então esta pausa ainda demora muito?????

M. disse...

Isto não está a ser uma pausa, é uma eternidade!

tb disse...

E a tua poesia faz-nos falta.
Lindo poema.
Beijo

O Lápis disse...

:) que grande pausa :)

Deu para quantos Kit Kats? :))

um beijo e votos de muitas coisas boas!

José Manuel Dias disse...

Conjugação perfeita...
Bjs

Poesia Portuguesa disse...

Olá, Licínia.

Há muito que "namoro" o seu blogue, em que a Poesia é Rainha...

Decidir-me na escolha de um poema, tem sido difícil, porque sinceramente, as suas palavras atraem a minha alma...

Hoje, mais uma vez, ni silêncio calmo das minhas manhãs de sábado, parei aqui e disse para mim: "É este!"

E aqui estou a pedir-lhe permissão para postar no Poesia este seu fabuloso poema.

Um abraço e grata pela imensa partilha que aqui faz, em sensibilidade e beleza.

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