8.3.07

BALOIÇOS



Entrançar luz e sombra
com as mãos do entardecer
nas cordas desfiadas do baloiço

Alindar as madeiras

com a leveza das brumas
e a húmida firmeza dos abraços


Dizer valeu a pena

nas línguas dos países

desenhados nos atlas da memória


Escrever tranquilidade

com a caligrafia

dos segredos das caixas de cartão


Baloiçar baloiçar

vai embora papão
sentir a grande voz e ali ficar


Baloiços ou balanços? Palavras em que nos sentamos à procura do ritmo inicial. Meninas em baloiços deram quadros célebres. Mais do que meninos. Transgressões consentidas a quem era exigido recato e contenção. Um baloiço em ruínas pendurado entre árvores é uma imagem muito forte que não quis aqui reproduzir. Preferível adivinhá-lo lá ao fundo, perto do portão que forçosamente haverá. Vou empenhar-me em consertar este baloiço. Se calhar precisarei de muito, muito tempo. Mas cumpre-me cuidar do sítio onde me irei sentar e balançar, balançar, quando chegar o momento de saber o fim da história. Não se preocupem. Sinto-me bem. Já deviam saber que sou dada a desvarios. Tão-badalão, cabeça-de-cão...

Licínia Quitério

24 comentários:

vida de vidro disse...

Dada a desvarios, pois sim! Dos baloiços da infância aos balanços bem mais tardios, não é fácil encontrar essa tranquilidade. **

agua_quente disse...

Baloiçamos, balançamos toda a nossa vida. A beleza de sempre.
Obrigada pela presença assídua e amiga lá na Paisagem.
Beijos

un dress disse...

desvarios

porque a vida

pouco mais será que valha

sEr...

és bem-vinda!

Luís disse...

Vi aqui ter transportado por um feixe de luz fugaz.

Li, li, li e apaixonei-me. Vou voltar.

jorge esteves disse...

Havia uma robusta carvalha, já entradota, dolentemente na margem debruçada sobre o ribeiro de àguas cristalinas, areias de ouro com silhuetas de carpas esquivas nos esconsos das ervas àvidas de frescura. Num dos ramos mais a jeito, um pneu balouçando em grossa corda, serviu para o lanço infinito que tem um salto do céu aos braços do sol estendidos ao sabor da corrente.
Nunca disse a ninguém o tesouro que um pneu velho escondia...

p.s. - o baloiço terá, certamente, o desvario do conserto...

Abraço!

Anónimo disse...

querida licínia. neste dia em que o sol ilumina o sorriso de todas as mulheres. venho cumprimentá-la com afecto. e informá-la que há flores para si. num sítio perto do coração. lá não há poemas. esses só habitam nesta casa. mas aceite um abraço. e um beijinho no baloiço

Moura ao Luar disse...

Beijos baloiçantes

Alberto Oliveira disse...

"... cozido e assado no caldeirão, orelhas de gato não têm coração... " cantava a minha avó paterna ao meu ouvido na tentativa de me fazer adormecer um pedaço pelo meio da tarde. Mas isso raramente chegava a acontecer porque eu não parava quieto. Não garanto que me lembro exactamente de que assim tenha sido realmente, porque teria uns três anos e a memória também é feita de relatos ouvidos mais tarde de outros familiares de que me apossei e os guardo, como de meus próprios se tratassem. E tantas vezes passei esses relatos aos meus filhos, que na actualidade, já não sei onde termina o que me contaram e começa o que vivi de facto. Mas não me preocupo demasiado com isso. Porque vejo perfeitamente o baloiço no quintal: como se fosse hoje. Tão-badalão, cabeça-de-cão...


um beijinho especial no dia de hoje.

bettips disse...

De baloiço em baloiço, vamos. Mão dada, mão roubada. Voar alto, hoje, nas asas das tuas palavras!

M. disse...

Belo como sempre. Hoje, as palavras num baloiço. Gostei tanto!
(...E baloiço puxa baloiço, ainda que diferente e noutro sítio...)

Maria P. disse...

O baloiço da infância que se transforma na corda bamba ao longo da vida...

Beijinhos*

esse disse...

Era eu que lhe pedia...ele inclinava-se, unia as mãos. Eu sentava-me e agarrava-me aos seus braços, fortes como cordas

Tão-badalão
Cabeça-de-cão ...

Ele corre para mim. Inclino-me. Junto as mãos. Ele senta-se e agarra-se aos meus braços fortes como cordas(?)

Orelhas de burro
Não tem coração.

Um dia, também os seus braços hão-de ser cordas...

Beijinho grande e obrigada! As tuas palavras conduziram-me a uma memória que estava perdida em mim!

Enfim... disse...

a vida é ela um grande baloiço eheh lol.Bjs

Era uma vez um Girassol disse...

Baloiço, baloiço...
Balanço vai faltando...
Pelo contrário, tentam parar o baloiço, para não mais baloiçar...
Quem me dera, nos intervalos das aulas da primária, garota irreverente, baloiçando de pé, bem alto, saias ao vento, sem medo...
Perder o balanço, parar.
Agora, o medo, cola-se ao corpo...
Lindo poema e prosa, gostoso ler-te!
Beijinhos, poetisa!

aquilária disse...

minha querida licínia,

há mãos invisíveis que nos ajudam a consertar e a dar balanço aos nossos baloiços.

um beijo - e que esses desvarios continuem....

António Melenas disse...

Baloiços da nossa infância
baloiçam pela fora
num baloiçar incontido
que não pode ser sustido
porque em nosso peito mora...
A.M.

Um beijo e bom fim de semana

Manuel Veiga disse...

baloiço que guarda o impulso inicial. e o vestido de chita esvoaçante...

muito belo poema.

como um sortilégio de palavras mágicas, o texto.

Anónimo disse...

muito lindo, adorei....

PintoRibeiro disse...

Cabeça de cão...pois. Bom dia, boa semana, abraço,

Teresa David disse...

Poesia ou prosa? como escolher, se ambas as linguagens nos remetem para o balanço entre a sensibilidade e o permanente bom gosto.
Bjs
TD

Anónimo disse...

olá licínia. estranho o silêncio destes últimos dias. espero-a bem. oxalá volte em breve com a poesia. aqui neste sítio encantado. abraço*

António Melenas disse...

Eu e as minha gralhas!!! (rais as partam. Não é morte de homem mas mete raiva.
Repito o que escrevi no comemtário acima:

Baloiços da nossa infância
baloiçam pela VIDA fora
num baloiçar incontido
que não pode ser sustido
porque em nosso peito mora...
A.M.

Um beijo
PS. Gostei do teu comentário ao meu "Estou Zangado"

Ana Gotz disse...

que lindo blog! amei o poema tbm!

:o)

Luís Contumélias disse...

A magia que encerra o simples embalar de um baloiço. Um dia voei tão alto que o Sol podia tocar. Não temesse eu, uma das mãos das cordas soltar...

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