Esplêndidos mantos
cobrem-lhe a recente nudez.
-Bordados de mãos exímias
no descanso das searas.-
Nunca os seus pés descalços
afloram as feridas da terra.
Em volta do leito abrigam-se
animais chegados de nenhures.
Ergue as vozes alheias e
por elas respira nas alturas.
Os olhos de água fresca
devassam a traição das redes
a ocultar a avidez dos poços.
Ri e canta e paira e avança .
Para trás ficam as redes
tecendo pragas inúteis.
-Bordados de mãos exímias
no descanso das searas.-
Nunca os seus pés descalços
afloram as feridas da terra.
Em volta do leito abrigam-se
animais chegados de nenhures.
Ergue as vozes alheias e
por elas respira nas alturas.
Os olhos de água fresca
devassam a traição das redes
a ocultar a avidez dos poços.
Ri e canta e paira e avança .
Para trás ficam as redes
tecendo pragas inúteis.
lembras-te? os pescadores tinham ficado em terra a consertar as redes. pelos braços trepavam farrapos de algas. trocavam frases velozes, acentuadas de marés vivas. pareciam tranquilos. sabiam os nomes de todos os peixes. não nos viam. estavam muito atentos às aves marinhas. vinham entregar-lhes recados das ilhas. eu não conseguia desviar o olhar do emaranhado dos fios. havia pequenos caranguejos prisioneiros. alguns tinham perdido patas e continuavam a lutar. o pescador com cabelo cor de palha livrou das malhas um lutador. mirou-o. pronunciou uma palavra salgada. devolveu-o à água opaca do cais. lembras-te de me teres passado o braço pelos ombros? lembras-te de me teres dito, com falso ar de zombaria: já estás contente? este safou-se.
14 comentários:
Caramba, Licínia. A tua escrita deixa-me toda arrepiada. De emoção, sabes? De acreditar que sinto o que tu dizes como se estivesses a conversar comigo, em silêncio, imaginárias amigas de longa data que há muito conseguem prescindir do som da voz para comunicar. E arrepiam-se, num estremecimento breve e doce, quando uma pensa e a outra ouve.
Um beijo.
'Os pescadores'
E é claro veio me à idéia o livro de Raul Brandão.
Fica bem.
Felicidades.
Manuel
Apreciei a beleza das letrinhas pretas e azuis. Cada cor no seu género...
querida licínia,
é-me difícil comentar este poema mas não poderei deixar de o fazer.
é como se comungássemos a taça do mesmo sangue e a tua voz tudo inundasse de bons presságios.
abraço-te, pois, os pés mergulhados nas turbulentas águas, o olhar almejando, já, a secreta clareira de um distante bosque.
*
que as mãos afaguem sempre o estremecer da folhagem de uma árvore, que a pele regozije com a luz e assuma a cor mágica das violetas ao luar, que as palavras, mesmo que melancolicamente, façam ouvir o seu canto.
*
quanto ao pescador com searas maduras na cabeça: há rostos que se revelam por fugazes lampejos, para logo de seguida se ocultarem.
quem sabe se a pata perdida do caranguejo sonhado não é amuleto, que te proteje...
excelente o poema. adorei o texto. brilhante.
O Sítio do Poema chamaste tu a este teu espaço. O Sítio do Encanto acrescento eu. É muito bom vir qui e ler os teus texsto e poemas lindíssimos a cheirar a vida. Um beijo
era o principezinho...esse pescador...
mais uma vez vou na volta de te ler.
com as mãos cheias: de doçura magia lentidão...
beijO.licínia:)
Não sei que lhe dizer Licínia Quitério. Só que a vou acrescenbtar à minha lista de leituras. Fala das coisas que conheço, com as quais sinto empatia. Com as palavras faz frases simples, com sentido para mim. Conta histórias e faz poemas. Foi a minha 1ª visita. Gostei muito. Voltarei com certeza para a ler.
Abraço.
Fico emocionada com a força e a delicadeza dos teus poemas e textos.
Parece paradoxal...mas não é.
E assim resulta o equilíbrio e a beleza da mensagem.
Beijinhos
o sítio do poema mudou de visual e ainda bem. foi uma agradável vista esta. gostei de cá voltar e matar um pouquinho das saudades. deixo um grande beijinho, licínia :)*
Um equilibrío exaustivo entre as delicadas palavras e a sensibilidade com que as demonstras.
Bjs Zita
lindissimo adorei:)
recomendo-lhe www.luso-poemas.net
participe neste LINDISSIMO site de literatura:)
beijinhoss
a imensidão que nos separa não é impecilho para a proximidade que tua escrita desperta ao te ler.
ADOREI!!!
Já tinha tempos com sabores salgados. A par do caranguejo, também volto ao mar. Das palavras com poesia!
Abraço.
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