de noites de cetim
com ânforas de lume
a queimar a morder
Nem só traje de lua
a brilhar a bailar
em trama de feitiços
a chamar a prender
A pele é um continente
onde se cravam gritos
onde se bebe o sal
até secar as fontes
onde se lêem nomes
de rochas ainda quentes
com ânforas de lume
a queimar a morder
Nem só traje de lua
a brilhar a bailar
em trama de feitiços
a chamar a prender
A pele é um continente
onde se cravam gritos
onde se bebe o sal
até secar as fontes
onde se lêem nomes
de rochas ainda quentes
Viam-na, à noitinha, subir os trilhos da serra. Como um grito das vestes sempre negras, uma longa écharpe vermelha de pontas franjadas. Diziam as velhas que lhe espiavam o abrir da caminhada, afastando, com as pontas dos dedos, as cortinas de renda das janelas antigas das casas antigas, que era uma jovem de pele morena, talvez uma sarracena como as dos livros de histórias que tinham lido quando jovens. Diziam os rapazes, embriagados pela dança das noites novas, quando a viam de madrugada, na descida da serpente, que a pele do seu rosto era branca, branca como o branco da lua cheia...
Licínia Quitério
Licínia Quitério
18 comentários:
Feitiços a chamar e a prender
...
Um belo chamar para as histórias, para as lendas...
Abraço.
gostei muito, Licínia!
a pele é memória
superfície
adjacência
também é lua às vezes
e mágica
e tem fome
às vezes
.a pele
...
beijO
"A pele é um continente
onde se cravam gritos"
A lua cheia a iluminar-lhe o rosto.
Muito bom.
Até secar as fontes
azul de todas as cores
veste que se despe
para a vida (re)brotar
a pele.
(re)nasce
das duras pedras
uma rosa singular.
da dureza das pedras
suaves pétalas
morenas e claras.
bronzeadas pelo sol
beijadas pela lua
pétalas
de poesia
se (re)vestem.
(deixo o meu abraço fraterno, Licínia.)
Da poesia à prosa dista a qualidade da escrita.
É bom ler um poema com versos belos e depois extasiarmo-nos no canto singelo dum pedaço de vida...
Mas que bonito...
Pele...fascinação.
Amar...uma questão de pele.
Será?
Beijinhos
A pele envelhecida, vista figurativamente, na imagem de uma rocha é uma ideia fantástica, que as palavras acompanham com a mestria de sempre.
Bjs
TD
publiquei agora mesmo um comentário a um post de Bettips em que extensamente defendo o prestígio da pele.
dizer que a pele é um continente é demais, que excelente metáfora!
tudo o que é importante se passa na pele, que é o lugar do encontro, da fala e da memória.
Gostei muito das duas peças, do simbolismo da primeira e da narratividade da segunda ancorada na oposição dos olhares e na contradição do objecto visto.
Há em todo o texto um quê de contos de mouras encantadas de etnografia local e de danças primaveris de fundo pagão à Stravinsky.
Olá Licínia,
Muito bonito, ler a pele assim...
a pele é lava de vulcão. assim (d)escrita.
muito belo.
a pele, como diário ardente de sonhos e vivências.
um abraço grande, licínia
Lindo. Sabes que sim...:)
Beijinho*
Mágica. A luz da lua e o ardente calor da pele. **
Esta Beleza que dói, Licínia.
Era apenas a sombra de um camaleão.
Ressoa, incrivelmente, a última estrofe, de uma beleza rara.
E o texto... O texto... É um quadro de misterioso encanto.
Toca na pele, esta história de memória.
Um grande abraço.
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