Pouco basta para que
um astro se acenda
sobre a mesa da tarde
Pode ser o fio de voz
de uma menina
e as suas mãos morenas
segurando um poema
que escreveu
Vendo bem não são as mãos
antes projecto de asas
Sejam sempre bem-vindos
os pardais
São aos milhares. Disputam poisos nos ramos das árvores da praça centenária. Um coro de piados estridentes encorpa e inunda os ares e as ruas e as casas em volta. São os pardais de fim de tarde. Qual deles deu o toque de recolher? Com que sinais dizem "vamos dormir"? Ficam mudos quando a noite se instala. São folhas de sangue quente nas árvores despidas pelo inverno. Perto dali, uma criança diz um poema. Não é que me pareceu um pardalito, desprezando a noite, a despertar?
Licínia Quitério
21 comentários:
Crianças, pardais, coisas doces e frágeis que nos "acendem um astro". Um sol brilhante, uma lua melancólica. Sempre bem-vindos, sim.
Fagundes esfregou as mãos. Não estava contente, apenas tinha frio. Um sem-abrigo nunca pode estar contente, e tem sempre frio, dizia ele muitas vezes aos seus amigos, enquanto lhes dava o jantar. Vá, aproveitem, que este pão só tem dois dias, não é como os outros. Os amigos pareciam satisfeitos com tão parca refeição. Juvenal, olha ali uma migalha do teu lado esquerdo... além, quase por baixo da asa do Gervásio, Fagundes quase gritava perante a indiferença dos pardais.
muito bonito e delicadamente fantasioso.
Hoje também vi um pardal na beira duma janela. Vadio. Inquieto.
(Falo dele(s)e da sua provável liberdade de procurar sementes, por uma época. A época da sua pequena vida.
Humano é mais longo, mais inquieto.
E pensa. Logo, sofre.
Bj à menina do poema.
os pequenos pardais, em passinhos saltitantes, na estrada da vida, ensaiando o voo que apetece.
abraço, licínia
Tão bonita a tua comparação entre a menina e o pardalito! Ambos tão leves no seu pisar a vida com "projectos de asas".
... Peço desculpa... "projecto de asas" e não "projectos de asas".
acendem os astros. e o brilho do olhar. os teus pardais...
Gosto de pardais. E de crianças. E da criança que disse um poema. Um beijo.
Gostei particularmente do "fio de vos de uma menina".
Ao ler o poema e o texto veio-me á memória uma tarde que passei há 15 dias na Ericeira, onde, na praça central, as árvores se cobriam de pardais que chilreavam intensamente. tudo isso visualizei nas tuas palavras.
Bjs
TD
Um encanto...este canto!
Palavras cheias de significado, aqui e também no girassol.
Obrigada, minha amiga.
Beijinho da flor
como borboletas, os pardais: voláteis e livres!!
:)
beijO
... a cidade, as árvores (infelizmente cada vez menos nas cidades) os pardais (que sem árvores não são pardais) e os Juvenais, Gervásios e Fagundes que nunca são demais tal como os pardais
ah! e o teu poema, sempre no sítio certo da leitura. Que é como quem diz "no coração".
beijinhos
passer mortuus est meae puellae,
passer, deliciae meae puellae,
quem plus illa oculis suis amabat
Perdoe-me o irreprimível impulso para citar Catulo mas a sua escrita delicada e sensível compele-me a sentimentos clássicos. Se Perdido estivesse connosco o "pardalito" induzir-lhe-ia uma emoção "sobrerromântica anarco-sensacionista" que lhe despertaria um manancial de palavras "em cascata ascendente". Eu direi apenas: calo-me! É tão monárquico...
Minha querida senhora, os meus cumprimentos.
Vim agora pela vez primeira, mas não serà a derradeira!
Noite descansada.
Afinal Mafra fica aqui tão perto. Encontramo-nos alí na Carvoeira, mais ou menos, onde Sintra acaba e Mafra começa. Ou vice-versa.
Um síto com poemas é um sítio lindo. Voltarei.
Uma radiosa fantasia no caminho secreto dos pássaros...
Doce beijo
Ali ao lado os fascículos são deliciosos... Fico à espera do próximo. :-)
E uma criança é mesmo um pardalito falante. Frágil, indefeso mas alegre, vivo, gentil...
poema e texto a condizer. Como sempre!
beijinhosss
pardais: cabeças de berlinde...
:)
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